Nova volatilidade do câmbio

Por Por Vinícius Nardy, Ísis Lira, Luís Filipe Massei e Wilson Rotatori

Após curto período de queda na taxa de câmbio, os últimos dias foram de elevação no valor do dólar frente ao real. Uma nova crise de um país emergente trouxe seus efeitos para o Brasil. Depois da Argentina, é a vez da Turquia passar por um momento turbulento em razão da dependência de capitais estrangeiros. Com isso, os investidores do mundo todo ampliaram a aversão ao risco de investimento em países emergentes, visto a existência de tal dependência em grande parte do grupo.

A Lira turca vem sendo desvalorizada desde o início de 2018, perdendo cerca de 45% do seu valor em comparação ao dólar. Porém, nas últimas semanas, tal movimento se acentuou. Somente no dia 10 de agosto, o presidente turco viu a moeda de seu país sofrer uma queda de 16%. O aumento das tarifas anunciadas por Donald Trump em retaliação a questões diplomáticas mal resolvidas entre EUA e Turquia, associada a problemas de caráter político e estrutural nesta última (como a já mencionada grande dependência de financiamento externo), acabaram colaborando para que a situação econômica do país se agravasse. A elevada inflação turca, que, no mês de julho, chegou a mais de 15%, e a relutância do Banco Central (pressionado pelo presidente Erdogan) em elevar a taxa de juros, acabaram por aumentar a instabilidade no país, fato que refletiu também na cotação das demais moedas de países emergentes.

O mercado financeiro mostrou-se ainda mais receoso devido à alta exposição dos bancos europeus, tendo em vista que alguns possuem vultosos montantes em empréstimos concedidos aos bancos turcos. Aliado a isso, estima-se que o déficit em conta corrente no país ultrapasse os 60 bilhões de dólares, fato que demonstra a vulnerabilidade externa. O resultado foi o surgimento de uma onda pessimista em relação às economias emergentes. Em tal situação, os investidores tendem a procurar aplicações mais seguras, como os títulos do tesouro americano (que se tornaram ainda mais atrativos após aumentos da taxa de juros americana). Assim, as moedas de modo geral vivenciaram uma redução de seus respectivos valores frente ao dólar; caso do real (4%), rublo russo (8%) e o peso argentino (6%). No caso deste último, o processo de desvalorização já era acentuado, o que forçou o Banco Central Argentino a elevar em 5% a taxa de juros no país, chegando ao patamar de 45% a.a.

Os efeitos esperados desses movimentos para o Brasil (na condição de nação emergente) seriam justamente uma maior instabilidade no mercado financeiro, possível fuga de capitais e os problemas atribuídos ao acréscimo na volatilidade cambial. Apesar disso, os impactos aqui, em certa medida, tendem a ser minimizados, devido a uma relativa autonomia do Banco Central para decisões de política monetária combinada com o grande volume de reservas internacionais (na ordem de US$ 380 bilhões) que proporcionam uma margem de manobra mais favorável para lidar com a instabilidade no quadro externo. Outro ponto favorável é justamente a inflação baixa vivenciada pelo país nos últimos meses, que não obriga o Banco Central a subir a taxa de juros como na Argentina. Essa conjuntura minimamente confortável do Brasil frente aos emergentes ainda permite relativo espaço para atração de divisas estrangeiras caso a conjuntura piore. Até lá, entretanto, a volatilidade no câmbio deve ser a tônica.

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