A inflação no Brasil é algo muito recente na mente de seus cidadãos adultos em decorrência dos períodos de hiperinflação que ocorreram nos anos 80 e 90. Inflação que, durante a pandemia de coronavírus, ganhou força e está subindo de forma vertiginosa. Entretanto, o Brasil atualmente não está sendo exceção e, na verdade, faz parte de uma série de países, como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, que vêm observando uma alta em seus índices de preços.
Esses países foram destacados, visto que, durante os últimos 20 anos (em alguns casos até mais) nunca haviam experimentado uma alta na inflação de forma tão expressiva. Além deles, outros países desenvolvidos como Canadá e Cingapura também estão sofrendo com uma alta de preços que, apesar de ser mais modesta quando comparada com o cenário brasileiro, é um incremento significativo na realidade desses países.
Em outubro de 2020, os Estados Unidos possuíam uma inflação de 1,20% ao ano, mas no último relatório, divulgado em julho de 2021, já apresentaram um CPI (Consumer Price Index, IPCA americano) de 5,40% ao ano, o que representou um aumento de 4,5 vezes o valor anterior. O caso da Alemanha ainda é mais significativo, pois, em outubro de 2020, registrava uma deflação de 0,20%, enquanto em julho de 2021 teve uma inflação de 3,80%. O Reino Unido também caminhou no mesmo sentido, no mesmo período citado saiu de uma inflação de 0,70% para uma de 2,50%.
Mas, o que poderia estar causando tamanha inflação em países onde nunca houve inflações tão altas nas últimas décadas? A resposta é que esses países também tiveram reações monetárias inigualáveis na pandemia, justamente para conter a recessão econômica. Essas injeções de dinheiro na economia foram feitas precisamente para aumentar o consumo e causar uma inflação que, em proporção correta, faz bem para a economia. No entanto, a questão é que a inflação em alguns países parece ter saído do controle e estar ameaçando a saúde econômica deles.
Para se ter a noção da proporção dessas políticas monetárias, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) quase dobrou seus ativos (quanto mais dinheiro ele coloca na economia, mais ativos ele obtém), indo de US$ 4,16 trilhões em fevereiro de 2020 para US$ 8,25 trilhões em agosto de 2021. Já a Alemanha se movimentou de forma parecida, pois entre abril de 2020 e abril de 2021, foi de € 1,86 trilhão para € 2,56 trilhões. O Reino Unido também apresentou grandes aumentos, indo de £ 600 bilhões em abril de 2020 para quase £ 1 trilhão em agosto de 2021.
Esses grandes aportes de dinheiro na economia podem demorar alguns meses para fazer efeito, portanto, estamos sentindo os efeitos desses grandes acréscimos feitos, principalmente no ano passado, somente agora. Assim, países em desenvolvimento como Brasil, Argentina, Índia e Rússia, neste momento, não estão amargurando inflações prejudiciais sozinhos, mas sim experimentando o mesmo problema que grandes potencias, que, há muito tempo, não sofriam um aumento de preços relevante em suas economias. Podemos ver que a inflação está voltando em locais em que nunca sequer tinha ido.
Por Gabriel Manhães e Jardel Aquino
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