O mundo atravessa um momento extremamente delicado em termos econômicos e a possibilidade de uma nova crise global de proporções alarmantes é iminente. Duas causas principais indicam que uma crise pode estar próxima: a piora significativa de indicadores econômicos na Europa e na China e uma inversão atípica nas taxas de títulos públicos dos EUA – os títulos de longo prazo estão com uma taxa menor do que os títulos de curto prazo. Este último fato causa grande insegurança nos investidores em relação ao futuro dos EUA. Todos esses fatores afetam sensivelmente o Brasil, sendo que a intensificação de uma crise global tende a comprometer uma série de políticas do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são um caso particularmente interessante. Durante a crise de 2008, a forma encontrada pelos governos para evitar maiores danos à economia mundial foi a injeção de grandes quantidades de recursos nas instituições financeiras. Tal injeção não foi transformada em crescimento econômico em quase nenhum dos países desenvolvidos, exceto nos EUA. Apesar deste crescimento, é possível observar alguns pontos que indicam o fim desse ciclo na maior economia do mundo. Exemplo: foi registrada a menor taxa de desemprego desde 1969, com o indicador caindo de 3,7% em agosto para 3,5% em setembro. Esse fato, acompanhado pelas sucessivas reduções nas taxas de juros promovidas pelo banco central americano para promover o consumo, indica um problema à vista: a produção decorrente do nível de emprego alto não é acompanhada pela demanda e o país pode passar de um cenário de crescimento e emprego para um de recessão e desemprego em alta. A característica cíclica da economia americana é explicitada no histórico da taxa de desemprego, que, tão logo apresente níveis próximos da mínima histórica, entra em um novo ciclo de aumento.
Em segundo plano, é possível observar algumas questões conjunturais relativas ao fraco desempenho de indicadores econômicos na Europa, associados à desaceleração na China, que reforçam a possibilidade de desencadeamento de uma crise mundial. A Alemanha, uma das maiores economias do mundo, informou que seu PIB (Produto Interno Bruto) recuou 0,1% no segundo trimestre de 2019, alcançando uma recessão técnica (crescimento negativo em dois trimestres seguidos). A produção industrial dos países que compõem a Zona do Euro diminuiu 1,6% no período relativo ao final do primeiro semestre. Já na China, a produção industrial cresceu 4,8% em julho. Parece muito, mas o valor está bem abaixo da expectativa dos especialistas, que previam crescimento de 5,9%. O país vem contribuindo menos para o crescimento da economia global em razão desse processo de desaceleração de seu próprio crescimento. Nesse quesito, a guerra comercial travada entre China e EUA não ajuda em absolutamente nada.
Os indicadores são preocupantes, mas não confirmam uma nova crise global ainda. A economia global, tanto em 2017, quanto em 2018, cresceu mais do que o esperado. Portanto, boa parte do que está acontecendo é uma desaceleração em relação aos dois anos anteriores. Ainda dentro da normalidade. O que não exclui a necessidade de olhar mais atento para o que está acontecendo no mundo, que nos prepare para minimizar os danos que decorram de um ‘hard landing’ conjunto da águia e do dragão. Cena pouco agradável de se ver, não importa o ângulo em que se esteja.
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