Atividade econômica, auxílio e 2021: como está o início do ano?

Por João Víctor Lavorato e Bruno Gomes

A virada do ano foi marcada pela esperança de uma ampla vacinação já no início de 2021 e de uma consequente retomada econômica. Não foi o que ocorreu e, ao contrário do esperado, as medidas de distanciamento social foram restabelecidas pelos agentes governamentais, afetando diretamente a atividade econômica. O PIB do Brasil encerrou 2020 com uma queda de 4,1%, uma das maiores quedas da história do país. Dados os números ruins do ano passado e com as projeções mais precisas sobre o resultado do início do ano de 2021, o objetivo da coluna desta semana é analisar os resultados do primeiro trimestre deste ano bem como expor os possíveis fatores considerados decisivos para a retomada.

Primeiramente, antes de analisar o trimestre em específico, é válido “dar um passo atrás” e mencionar o papel da política fiscal na economia no ano passado: ao longo de praticamente todos os meses houve o pagamento de parcelas do auxílio emergencial, visando a assegurar a renda de curto prazo de grupos socialmente vulneráveis. Ao total, foram pagos cerca de R$ 294 bilhões. Essa medida estimulou o consumo de bens e impediu que o PIB caísse ainda mais, portanto, a política fiscal do Governo federal aqueceu a atividade econômica. No entanto, não houve esse estímulo no início de 2021, o que afetou diretamente a economia brasileira e atrasou a recuperação. Sem o auxílio de janeiro a março, com a vacinação incipiente e a volta das medidas de distanciamento social, provavelmente, teremos uma queda do PIB no primeiro trimestre.

Como em 2020, a agropecuária foge à regra e deve apresentar um aumento do seu PIB em 2,4% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com o último trimestre de 2020, conforme projeção do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE-FGV). No entanto, a indústria e os serviços devem apresentar quedas: seguindo a mesma base de comparação, a indústria deve contrair 1,7%, puxada principalmente pela forte queda da indústria de transformação (-3,6%), ao passo que o setor de serviços tende a cair 1%. Assim, a estimativa é de que o PIB do primeiro trimestre diminua 0,5%. É importante afirmar que as medidas de combate ao coronavírus afetam principalmente o comércio e os serviços e, se um país possui sua atividade econômica orbitando em torno do setor terciário, a economia desse país tende a desaquecer mais com a pandemia. No caso, grande parte dos países desenvolvidos e emergentes, incluindo o Brasil, se enquadra nessas características.

Já com relação aos meses a partir de abril, o Governo federal anunciou a volta do pagamento do auxílio emergencial: serão quatro pagamentos, de abril a julho, com os valores variando de R$ 150 a R$ 375, a depender de certas características do beneficiado. Além disso, serão cerca de R$ 50 bilhões antecipados do décimo terceiro do INSS para abril e maio. Portanto, a política fiscal aquecerá a economia, mas em uma magnitude menor do que fora visto ano passado. A vacinação também é um fator decisivo para a retomada, porém o atual quadro sanitário é extremamente incerto, o que coloca em dúvida quando ocorrerá de fato a retomada.

Assim, já se enxerga um possível cenário para o primeiro semestre de 2021: de janeiro a março, viveu-se uma interrupção da economia, que provavelmente, atrasará a recuperação. Posteriormente, no segundo trimestre, poderemos ter um aquecimento da atividade econômica, no entanto, esse cenário depende muito do êxito da vacinação, do estímulo fiscal e da própria política monetária. O desemprego, que atinge níveis recordes, deve cair posteriormente de forma gradual após a normalização da economia e, quando todo esse contexto melhorar, o vilão do Governo será a conciliação das contas públicas. Não haverá descanso.

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