O Governo federal apresentou por Medida Provisória (MP) uma proposta controvertida de reforma para alterar a base curricular do Ensino Médio, com o objetivo de tornar o ensino mais atrativo para a realidade dos jovens e tentar sanar e impulsionar o problema crônico da baixa produtividade brasileira. Deixando de lado as minúcias da questão curricular – que devem ser discutidas pelos educadores – temos que perguntar até quando podemos esperar para modificar a situação da educação no Brasil. Para entendermos melhor a importância do tema, vamos olhar alguns dados relevantes para a Coréia do Sul, que, em 1960, tinha renda per capita de US$ 1.077, inferior à do Brasil na época, que era de US$1.868.
Números fornecidos pelo Instituto de Estatística da Unesco e pelo Banco Mundial revelam que, na década de 80, a Coréia do Sul tinha a população com escolaridade média próxima a 7 anos de estudo formal, alcançando 11,8 anos em 2013. O Brasil, embora tenha progredido muito desde a década de 1980, quando a escolaridade média não passava de 4 anos, apresentava uma média bem inferior em 2013, 7,2 anos.
Outros números do Brasil também são preocupantes. De acordo com o IBGE, dados de 2010 revelam que cerca de 11,6% de estudantes abandonam o ensino médio e 37,8% dos alunos matriculados estão com idade não adequada para a série. Para tentar reverter a situação, uma mudança importante é justamente na carga horária, que deve passar progressivamente das 800 horas para 1.400 horas anuais, o que significa que as escolas passarão a adotar o modelo de ensino integral.
As metas do Plano Nacional de Educação (PNE) apresentado pelo MEC preveem para 2024 até 50% das escolas atendidas pelo ensino integral e 25% das matrículas no Ensino Fundamental dentro do mesmo modelo. Há previsão também de aumentar a oferta de ensino integral profissionalizante, uma possível solução para sanar a falta de profissionais técnicos no mercado.
Um transbordamento positivo lógico e consequente de melhorias do ensino básico é trazer alunos mais qualificados para a educação superior e, possivelmente, aumentar o número de pesquisadores nas universidades e empresas. O que levaria a mais investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), o grande provedor de novas ideias que a todo tempo mudam a nossa realidade, aumentam a produtividade e podem trazer grandes melhorias de renda para o nosso país.
Os números de investimento em P&D são relativamente recentes, mas, enquanto a Coréia do Sul expandiu largamente seus investimentos na década de 1990, de algo próximo a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para 4,2% do PIB em 2014, o Brasil, no mesmo período, progrediu pouco, de 1% para 1,2% do PIB. A causa é evidente: não dá para investir em pesquisa com baixa escolaridade.
Para finalizar, os resultados esperados da mudança: após investir em educação e em pesquisa e desenvolvimento desde a década de 80, a renda média da Coreia atingiu US$ 28.461 em 2009. Enquanto isso, a renda média do Brasil foi de US$ 9.315. Ou seja, se quisermos progredir como nossos pares, não dá para esperar muito mais para mudar nossa educação!
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