Deflação x inflação

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr

Durante as décadas de 80 e início de 90, os brasileiros sofreram com a chamada hiperinflação, decorrente do aumento descontrolado dos gastos públicos e da elevação do endividamento externo. Para fechar as contas, ao invés de cortar gastos, o Governo inundava a economia com quantidades suficientes de papel-moeda para desvalorizá-lo de forma abrupta. Foram mais de 15 anos de inflação acima de dois dígitos ao mês. Comerciantes remarcavam os preços diariamente, enquanto consumidores gastavam seus salários assim que recebiam, estocando alimentos em casa. Sem saber quanto de dinheiro havia em circulação e, portanto, quanto ele valia, as pessoas e as empresas não planejavam, não tomavam crédito, não investiam e não prosperavam.

Atualmente, o tema inflação voltou a preocupar os brasileiros, com efeitos já bem percebidos no bolso dos consumidores. Ainda que bem longe do patamar registrado na década de 80, quando a inflação alcançava 80% a.m., hoje ainda não está em 8% a.a., de acordo com o IPCA. Mas todo cuidado é pouco, porque o dragão pode voltar a se descontrolar. Longe daqui, outra realidade afeta o Velho Continente: a Europa vive tempos de deflação.Tal qual acontece quando estamos com muito calor e vemos uma nevasca na TV, nosso primeiro pensamento é: isso não pode ser tão ruim assim. Entretanto, economicamente falando, os dois problemas são igualmente graves. Enquanto a inflação reduz a renda real, inibe consumo e investimento e gera estagnação econômica, a deflação pode vir justamente dessa estagnação, quando as pessoas e as empresas estão de tal ponto desconfiantes quanto ao futuro que não produzem e nem geram renda. Sem apetite pelo consumo, as empresas não têm para quem vender, e os preços caem pela escassez de demanda.

Mas de onde vem essa estagnação e o que pode ser feito para controlá-la? Ora, se a inflação pode ser contida pela redução do consumo ou aumento da oferta, a deflação pode ser debelada justamente por medidas de estímulo ao consumo. Normalmente, quem estimula a economia em momentos assim é o Governo, aumentando seus gastos ou liberando moeda para que pessoas e empresas aumentem os seus – um processo denominado ‘quantitativeeasing’. Entretanto, no caso da Europa, abalada pelos gastos excessivos dos chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), a fragilidade fiscal (controle de gastos do Governo), impede a primeira solução. A situação da Grécia é a mais dramática e chegou-se a cogitar a possibilidade de saída do país da Zona do Euro, voltando ao dracma, sua antiga moeda. Sabendo dos perigos iminentes de uma instabilidade para a moeda única, o Banco Central Europeu (BCE) vem intervindo nesse processo de forma modesta desde o início da crise de 2009. Com o índice de preços na Zona do Euro em janeiro/2015 repetindo a mínima histórica de julho/2009 (deflação de 0,6%), o BCE resolveu lançar um pacote de estímulos econômicos mais agressivo. A partir de março desse ano, o BCE vai comprar 60 bilhões de euros em títulos por mês, pelo menos até setembro de 2016, numa tentativa de injetar mais de um trilhão de euros no mercado e estimular a atividade econômica. Os títulos alvos de compra serão títulos com alto grau de investimentos emitidos por Governos da Zona do Euro, além de agências e instituições europeias. Diferente do Brasil, a meta por lá é aumentar a inflação para 2% a.a. Na batalha econômica, nem inflação, nem deflação; ganham os Governos que mantêm suas economias saudáveis.

Por Beatriz Machado, Matheus Dilon e Renan Guimaral
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