Em meio à incerteza da pandemia, agravada nos últimos dias em muitas cidades, o mercado de trabalho brasileiro engatinha e já apresenta possíveis sinais de recuperação. Foram meses de forte contração econômica que empurraram o desemprego para valores altos, sendo que, com a atual legislação trabalhista e a dinâmica do mercado de trabalho brasileiro, provavelmente sair do atual patamar de desempregados demandará tempo. Os resultados dos últimos meses mostram que algumas posições já reverteram o quadro do desemprego causado pela COVID-19, enquanto muitas atividades ainda apresentam fortes variações negativas do nível de ocupação.
Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD COVID-19), tínhamos cerca de 84 milhões de pessoas ocupadas em maio, mas o pior ainda estava porvir em julho, quando menos de 82 milhões de brasileiros tinham uma ocupação. Desde então, com dados até setembro, a ocupação está caminhando para o patamar de mês cinco novamente. O Caged apontou a abertura de 250 mil postos de trabalho formais em agosto: o IBRE-FGV acredita que o resultado positivo dos últimos dois meses tenha sido consequência da estabilização dos desligamentos em um nível baixo e do aumento das
admissões.
Conforme a CMC já havia publicado em textos anteriores, o reaquecimento da atividade econômica induz a uma diminuição do desemprego, portanto estamos caminhando para uma reversão do quadro econômico atual, embora sem saber ao certo qual é a velocidade desse processo. Analisando a população ocupada por posição, apenas duas posições estão em níveis de ocupação superiores aos de fevereiro de 2020: os trabalhadores familiares auxiliares e empregados do setor público. Tecnicamente, o primeiro grupo se refere a pessoas que trabalham ou ajudam alguém, sem receber pagamento. Já o segundo grupo se refere a funcionários públicos com e sem carteira assinada, militares e estatutários.
Naturalmente, o mercado de trabalho do setor público é menos sensível a recessões, o que explica a variação positiva desde fevereiro. Todas as outras nove categorias, incluindo indústria em geral e agropecuária, caíram em quantidade de população ocupada e não haviam revertido a situação até setembro, o último mês com dados disponíveis. O destaque negativo foi para os trabalhadores domésticos, com variação de -32% desde fevereiro.
Quanto às atividades, apenas duas apresentaram variações positivas no nível da população ocupada desde fevereiro: a administração pública e a categoria de “informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas”. Do total de oito posições, o pior resultado foi para os serviços domésticos e “alojamento e alimentação”, com quedas iguais a -32,1% e -34,5% respectivamente.
Talvez o brasileiro precise de paciência para a retomada do emprego: os estímulos fiscais já foram executados e não há mais espaço para grandes medidas. Dessa forma, a economia deverá se recuperar com suas próprias forças, o que não inibe o Estado de já pensar em formas urgentes de capacitar os brasileiros, tornando-os mais produtivos e menos suscetíveis a desempregos conjunturais, como o atual quadro pandêmico.
Por André Sobrinho e Bruno Gomes. E-mail para [email protected]