Mensalmente, o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulga a Sondagem de Expectativas do Consumidor, uma pesquisa que busca captar o sentimento do consumidor em relação à situação geral da economia e de suas finanças pessoais, utilizando como um dos instrumentos analíticos o Índice de Confiança do Consumidor (ICC). Na sondagem de abril de 2023, a FGV informou que o ICC cedeu 0,2 ponto em relação ao mês anterior, levando o índice ao patamar de 86,8 pontos. Essa queda representa uma quebra no padrão de expectativas registrado no mês anterior (o índice aumentou 2,5 pontos de fevereiro para março). Mas, apesar de o ICC atingir valor menor que o de março (87 pontos), ele ainda ficou acima dos valores observados para os dois primeiros meses da nova gestão presidencial (85,8 em janeiro e 84,5 em fevereiro).
De acordo com os dados disponibilizados pela FGV, o que se percebe é que tem havido um aumento no pessimismo das famílias com rendas menores e, por outro lado, o pessimismo para as famílias de maior poder aquisitivo tem diminuído. Esse cenário pode ser reflexo, dentre outras coisas, das dificuldades de acesso a crédito, dada a manutenção de uma taxa de juros alta, sinalizando para a manutenção dos juros a um patamar mais elevado durante todo o ano.
De fato, a queda do ICC em abril, mesmo que moderada, é reflexo do pessimismo de consumo das famílias em relação ao futuro, e não ao presente. O Índice de Situação Atual (ISA), que capta a percepção do consumidor em relação ao momento atual, variou 0,1 ponto. O Índice de Expectativas (IE), que trata das expectativas dos consumidores em relação ao futuro próximo (seis meses), reduziu de 98,0 pontos em março para 97,6 pontos em abril.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostrou, para o mês de março de 2023, que a proporção do rendimento das famílias comprometida com dívidas foi a menor desde 2020, além de ter havido uma queda de 0,4 ponto percentual no nível de inadimplência. O indicador de dívidas atrasadas diminuiu na margem para os grupos considerados mais pobres, enquanto avançou entre os grupos com renda entre cinco e dez salários mínimos.
Portanto, os resultados analisados sinalizam um cenário com consumidores de renda mais baixa com uma postura mais moderada, diante das incertezas futuras, provavelmente relacionadas à dificuldade de acesso ao crédito e a perspectiva da manutenção de taxas de juros mais elevadas ao longo do ano. Em maio, o Governo Lula irá anunciar a indicação de novos nomes para o Banco Central, que irão compor as diretorias de Política Monetária e de Fiscalização. A depender do cenário criado após tais indicações, os comportamentos dos consumidores e suas expectativas podem mudar.