Cada vez mais próximo de um cenário de estagflação (crescimento econômico abaixo do potencial e inflação elevada), o Brasil vê sua produtividade, a medida de eficiência da produção, caminhar timidamente há 20 anos. De acordo com o Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento da FGV, a produtividade do trabalhador brasileiro corresponde, em média, a 20% da produtividade do americano. A baixa produtividade brasileira está fortemente associada à falta de investimento em capital humano (educação, treinamento, experiência) e à organização do sistema produtivo. Nas últimas décadas, o país saiu da predominância agrícola para a industrialização, mas rapidamente voltou-se à expansão dos serviços, que representam atualmente entre 65% e 70% da atividade econômica brasileira e são, em sua maioria, atividades de pouca eficiência e baixa qualificação.
Desde 2010 a atividade industrial não apresenta avanços. Mesmo nos momentos em que a economia brasileira crescia muito, a indústria não acompanhou o crescimento do PIB. Em 2014, a expansão industrial foi de apenas 0,9% e a previsão para o ano de 2015, segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), é de queda de 1,2%. O crescimento dos salários, associado à estagnação da produtividade do trabalho na indústria, levou a um aumento do custo unitário do trabalho, que foi suficiente não apenas para anular o estímulo vindo da queda da taxa real de juros, como também para levar à ampliação do hiato negativo de produto e à queda da utilização de capacidade instalada. Não bastasse essa defasagem, os recentes planos de ajuste fiscal do Governo, ainda que necessários frente ao déficit público (0,63% do PIB em 2014), têm contribuído para o agravamento do cenário. A meta do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é o corte de 30% das chamadas “despesas discricionárias”, ou seja, custeio e investimento em infraestrutura. Aliadas ao aumento da tributação e os reajustes das tarifas de energia elétrica e de combustíveis, as medidas levarão à retirada de investimentos programados. Nos dois primeiros meses de 2015, a produção industrial já acumula queda de 7,1% e, em 12 meses, registra retração de 4,5%, segundo o IBGE. Outro dado preocupante é o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), em 38,5 pontos, numa escala de 0 a 100, no mês de abril.
O cenário revela que, mais do que nunca, deve-se pensar numa saída para que a indústria tenha desenvolvimento com autonomia, sustentado não apenas pela proteção (competição artificial) de setores produtivos, isenção de impostos e subsídio de crédito. Como retomar (ou tomar) uma trajetória de desenvolvimento industrial real? A melhoria do ambiente de negócios e a redução do chamado “Custo Brasil” são ações necessárias. A infraestrutura de transportes brasileira requer aperfeiçoamento e a situação tributária precisa de revisão, principalmente em relação à cobrança “em cascata” que encarece o preço final ao consumidor. Essas são medidas conhecidas. Mas há outras. Melhores técnicas de gestão nas empresas, aumento nas taxas de inovação e na qualificação dos profissionais brasileiros são alguns fatores que podem ajudar o Brasil a retomar o posto de sétima economia do mundo, perdido em 2014 para o estado americano da Califórnia, cujo PIB, sustentado pela inovação, já chegou a US$ 2,20 trilhões. Resta-nos decidir se permanecer em berço esplêndido ou arregaçar as mangas e ir à luta de forma eficiente.
Por Beatriz Machado, Antônio Sazuki, Jailson Pires, Renan Guimaral e Karina Belarmino
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