Em 2022, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) do Banco Central registrou o maior saldo total de crédito dos últimos 11 anos, o equivalente a R$ 5,326 trilhões. Esse valor corresponde a 54,2% do Produto Interno Bruto (PIB). O estoque de crédito cresceu 14% em relação ao ano anterior, mesmo diante de altas nas taxas de juros, acompanhado por uma alta da inadimplência e dos spreads bancários. Embora intensa, a aceleração no mercado de crédito em 2022 foi ligeiramente mais fraca do que em 2021, quando o estoque total cresceu 16,5%.
Uma importante modalidade diz respeito às concessões de crédito de recursos livres, em que os custos dos financiamentos são estabelecidos pelas instituições financeiras, sem interferência do governo. A expansão de crédito para pessoas físicas atingiu R$ 1,8 trilhão em 2022, um aumento de 17%, após variação de 23% em 2021. Os principais destaques foram o crescimento nas modalidades de crédito pessoal não consignado, crédito consignado para servidores públicos, para aposentados e pensionistas do INSS, aquisição de veículos e cartão de crédito. Para pessoas jurídicas, o crédito alcançou R$ 1,4 trilhão, expansão de 9,9%, desacelerando em relação à variação de 17,4% em 2021. Destacam-se o crescimento nas modalidades de duplicatas e outros recebíveis, aquisição de veículos e capital de giro com prazo superior a 365 dias.
A taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras de crédito livre acompanhou o ajuste monetário promovido pelo Banco Central para controlar a inflação e encerrou 2022 em 42% ao ano. Essa taxa foi a mais alta desde 2016, quando a taxa média foi de 51%, período em que o país passou por grave crise econômica. Em relação à taxa de juros do crédito direcionado que segue os parâmetros estabelecidos pelo governo, a taxa média de juros total fechou o ano em 29,9%, também o maior nível registrado desde 2016. A taxa Selic, que se encontrava em 9,25% no início de 2022, foi elevada, encerrando o ano em 13,75%.
Com o aumento dos juros cobrados pelas instituições financeiras, o nível de inadimplência cresceu, fechando o ano de 2022 em 4,2% nos recursos livres, uma alta de 1,1 ponto percentual. Além disso, houve crescimento no spread bancário. O spread nas operações de recursos livres atingiu 29 pontos percentuais em dezembro, contra 23,6 pontos ao final de 2021. Esse resultado é referente à diferença entre o custo de captação de recursos pelas instituições financeiras e o que elas cobram dos clientes na concessão do crédito.
Para 2023, a previsão do Banco Central é de sequência da expansão do crédito, porém em ritmo mais lento, com alta de 8,3% no ano.
Por Ítalo Bellozi, Thiago Gouvea, Jamaika Prado e Weslem Faria