O Brasil passa por um momento em que a economia enfrenta o desafio da recuperação da pandemia. O desemprego atingiu recorde de 14,4% no primeiro trimestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e diversos setores, como: turismo, cultura e viagens também evidenciaram perdas. No entanto, um setor andou na contramão da crise: o setor bancário.
O bom desempenho dos bancos no período de desaceleração da economia se expressa nos lucros das instituições. Em 2014, segundo a empresa de desenvolvimento de sistemas para a análise de investimentos, Economática, os bancos lucraram R$ 67,5 bilhões, enquanto em 2019, os lucros chegaram a R$119,7 bilhões segundo o Banco Central (BC). Ainda consoante ao BC, o setor deteve um lucro de R$ 88,6 bilhões em 2020, uma queda no excedente, fator que pode ser explicado pela crise do coronavírus, mas que não evidencia riscos de desestabilização do segmento.
Um dos motivos para esse desempenho do setor bancário é a inovação na forma de interação com os clientes. De acordo com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o setor bancário é o segundo que mais investe em tecnologia, atrás somente do governo. Além disso, conforme dados da instituição, o investimento em tecnologia dos bancos no intervalo de 2011 a 2019 variou entre R$17,6 e R$ 24,6 bilhões anuais. Consoante a isto, o uso da tecnologia de informação visando a melhora de eficiência com menores custos já era algo promissor a ser desenvolvido por esses órgãos e, com a chegada da pandemia, tornou-se ainda mais necessário. As transações financeiras por meio de canais digitais ajudaram no montante do lucro dos bancos, já que parte dos ativos bancários correspondem às operações de crédito. Em uma análise para as cinco principais instituições bancárias brasileiras: Banco do Brasil, Caixa Econômica, Santander, Itaú Unibanco e Bradesco, o saldo total das carteiras de crédito destes somou R$ 3,6 trilhões no ano de 2020, apresentando crescimento médio de 14,1% quando comparado a 2019, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O aumento pode ser evidenciado pelas medidas de auxílio emergencial de crédito adotadas pelo Banco Central para enfrentamento à crise atual.
Os cinco bancos em questão lucraram R$ 79,3 bilhões durante a crise pandêmica (Dieese), contudo, o aumento nos lucros do setor não significou uma amenização dos efeitos negativos da conjuntura econômica vivida no país. Dentro do setor, cerca de 13 mil postos de trabalho se encerraram somente em 2020, visto que os efeitos do “home office” na pandemia levaram algumas agências e escritórios a fecharem suas portas e reduzirem os custos de operação. Vale ressaltar que a problemática em questão já se configura há anos. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), _ do extinto Ministério do Trabalho _ desde 2013, o saldo de empregos nos bancos segue negativo, acumulando até o final de 2019 cerca de 70 mil postos de trabalho fechados. A queda foi expressiva, registrando uma diminuição de 10% no número de empregados da categoria quando comparado ao final de 2012, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Ademais, o setor apresenta altas taxas de juros na concessão de créditos, o que emperra a recuperação de outros setores da economia. De acordo com a Associação Nacional de Executivos e Finanças (Anefac), a média da taxa de juros anuais registrada em junho de 2020 cobrada pelos bancos a microempreendedores foi em torno de 42,58% a.a. A Associação ainda apresentou as seguintes taxas para pessoa física: 73,92% no comércio, 255,94% no cartão de crédito e 128,52% no cheque especial, tendo assim, como média geral, 93,39% a.a. O valor atribuído às taxas de juros proporcionou às cinco instituições bancárias analisadas um ativo de R$ 7,9 trilhões no final de 2020, um aumento médio de 17,9% quando comparado a 2019. Consoante a esse montante, o valor foi maior que o PIB nacional de R$ 7,4 trilhões no ano de 2020, de acordo com os dados do Dieese. Como conclusão, o setor bancário foi um dos poucos que “aguentou firme” os efeitos da crise.