A visão que o mundo e os brasileiros têm do Brasil só piora a cada dia. A sucessão de escândalos em esquemas de corrupção, a retração do Produto Interno Bruto (PIB) por dois anos consecutivos, o endividamento elevado do Governo, das empresas e da população em geral, a queda nos preços de commodities (base da economia brasileira), entre outros fatores, estão fazendo com que uma grande crise de confiança se instale no país. Até os títulos públicos, vistos como seguros, estão sendo postos a prova num cenário de inflação crescente (afinal, de nada adianta ganhar 14% a.a. se uma inflação de 10% a.a. corroer 70% desse rendimento).
Joe Bormann, diretor da agência de classificação de risco Fitch Ratings, alega nunca ter visto as empresas do país em uma situação tão difícil. De acordo com ele, nenhuma empresa brasileira recebeu financiamento nos mercados internacionais de títulos desde junho de 2015. Esse é precisamente um dos efeitos mais nefastos do rebaixamento do rating soberano ocorrido no ano passado: afugentar investidores institucionais e estrangeiros do país. Ao evitar os ativos de uma economia, esses investidores cortam a liquidez que rega os investimentos privados. Sem investimento, fica difícil crescer, empregar trabalhadores e gerar renda.
Pelo lado das famílias, a perspectiva não é melhor. Segundo a empresa de avaliação de crédito Serasa Experian, a Justiça brasileira concedeu mais de 5.500 recuperações judiciais no ano passado, número mais elevado desde 2008, o ano da crise. Segundo o Bacen, os juros do cartão de crédito chegaram a 439% a.a. e os do cheque especial a 292,3% a.a. em janeiro/ 2016, com aumentos de 104,9% e 83,8% respectivamente nos últimos 12 meses. Essa escalada indica que os bancos elevaram as taxas de juros de forma muito mais intensa que o verificado com a Selic, a taxa básica de juros do Brasil, que avançou ‘parcos’ 2,5% em 2015. A enorme diferença pode ser atribuída a um ingrediente fundamental numa economia: expectativas.
Uma publicação do Banco Interamericano de Desenvolvimento de 2009, assinada pelo economista Márcio Garcia, resgata elementos da crise vivida pelo Brasil no início dos anos 90, início dos 2000 e pode ajudar a entender a importância das expectativas na política econômica. À época, via-se um cenário similar ao atual: disparada do câmbio, fuga de capitais, taxa de juros crescente e inflação em elevação. Seguindo a receita de políticas anticíclicas (adotar ações no sentido de reverter ou reduzir os efeitos de cada ciclo), a medida adequada seria estimular a economia via juros menores, subsídios fiscais, investimentos públicos, etc. Porém, o que foi feito naquela época foi o contrário: a política econômica adotada era ainda mais contracionista. Como não colapsamos naqueles dias?
O ingrediente fundamental foi usado: expectativas. O reconhecimento por parte dos formuladores de política econômica de que a crise que o país enfrentava nos idos de 2002 era de confiança fez com que o presidente do Banco Central à época conseguisse fazer com que todos os candidatos à presidência declarassem que adotariam as medidas econômicas cabíveis para combater a crise. O efeito foi o esperado: o compromisso dos dirigentes – e a ajuda do FMI em contrapartida ao compromisso – restauraram as expectativas, que eliminaram as reações exageradas dos agentes. Como em qualquer situação adversa, é importante ter alguém de bom senso capaz de acalmar o pânico geral. Aos tomadores de decisão, a tarefa importantíssima de assumir responsabilidades e cumprir compromissos. À população em geral, tranquilidade e planejamento para enfrentar os piores momentos sem bater a cabeça.
Por Fernanda F. C. Perobelli, Idala Carolina e Henrique Miranda – email para: [email protected]