A SAF e os sapos
Ao torcedor brasileiro, é claro que os modelos de Sociedade Anônima do Futebol, as SAF, são novos. No caso de Cruzeiro e Botafogo, além de outros clubes, há um entendimento popular de que esta possa ser a salvação, com a saída da cultural amadora gestão que ainda atravessa as politizadas associações esportivas.
Com administrações mais saudáveis e voltadas, claro, ao lucro dos investidores, o clube-empresa parece ser a possibilidade de formação de um time competitivo, atrelada ao compromisso com os credores nos pagamentos de dívidas com um montante assegurado em contrato, de parte do investimento do empresário. Assim, volta o sonho da busca por títulos e, finalmente, impulsionar as receitas com as premiações e as negociações de direitos econômicos dos jogadores.
No entanto, a transparência não é lei. A empresa não terá que fornecer todas as informações que o torcedor deseja. Por exemplo, o real motivo da saída do goleiro Fábio do Cruzeiro depois de uma vida “adulta” na Toca da Raposa – 18 anos e 976 jogos. Enquanto o arqueiro sofre, assim como os milhões de cruzeirenses que viam nele o pilar também da reconstrução, Ronaldo Fenômeno prefere manter em sigilo todas as informações que levaram à decisão.
Em coletiva nesta terça, R9 exaltou a representatividade de Fábio em palavras, mas afirmou que “durante a negociação, houve uma negativa por parte dele, o que também nos pegou de surpresa. Mas entendemos que todo o sacrifício que deveríamos ter feito, foi feito. E temos que virar a página, seguir adiante.” Qual a negativa? Não se sabe.
Como em muitas coisas importantes em nossas vidas, há a necessidade de plantar, engolir sapos e, depois de muito tempo, colher. O cruzeirense já começa a entender que este deve ser o roteiro. Mas até onde vai o poder frio dos números? Entendo que valha a pena se pensarmos na maioria dos outros casos que possam surgir. Mas para Fábio, caso excepcional em nosso futebol, seu valor técnico e comercial jamais justificaria uma decisão tão gelada. E tantos sapos.