Moralistas de goela
As derrotas esportivas não são indolores. Pelo contrário. Por vezes, dilaceram uma ferida permanentemente aberta no ego de seres falíveis e atormentados por uma sociedade edificada na base de cobranças e estereótipos. Invariavelmente, o revés do clube do coração nos rouba por um momento o sorriso interno lúdico de quem tem a certeza de que seu clube de coração é o melhor do mundo. É o caso de todo e qualquer torcedor.
Mas o fato é que nenhuma angústia justifica atos de violência. Nada legitima algo como o apedrejamento do ônibus que trazia os jogadores do Botafogo, após o insucesso diante da Aparecidense que culminou na eliminação precoce da Copa do Brasil. Isto, sim, é a maior de todas as dores: a constatação de que nossa sociedade esta sucumbindo à estupidez da desorganização de pequenos grupos autointitulados “organizados”. Das derrotas, a maior.
O sujeito que agride e coloca a vida de outrem em risco por conta de futebol, na verdade, é o mesmo que bate-boca no trânsito, hostiliza minorias, comete atos de violência doméstica, pratica indistintos tipos de assédios e intolerâncias. É um moralista de goela! É um derrotado pelo ódio e um verdadeiro hipócrita, que cobra de terceiros empenho por melhores resultados em campo, enquanto ele próprio mostra-se uma persona da pior qualidade.