Em uma troca de mensagens recente, uma amiga me confidenciava que a ansiedade que ela sentia no início da pandemia voltou a assustá-la. Minha mãe, outro dia, comentou que ligar a TV é ter a sensação de ver o dia se repetir, sem palavras novas. Os números indicam uma retomada de crescimento nos números diários de infectados e mortos, como testemunhamos horrorizados ao longo do tempo. Bato o olho no calendário e vejo que são nove meses imersos nessas circunstâncias.
É equivalente ao tempo de uma gestação. O ciclo da vida ensina que é preciso respeitar cada etapa para que uma pessoa se desenvolva plenamente. É necessário estar atento à nutrição, aos sinais vitais, aos indicadores verificáveis por exames. Cada detalhe é importante. A batida do coração, os contornos de pequenas mãos que começam a ser visíveis no ultrassom. Cada fase inspira algum cuidado e demanda acompanhamento. Assim como a situação que vivemos.
De certa forma, boa parte da população está em casa a maior parte do tempo durante todo esse período. E o que nós geramos durante esse tempo? Quais são as etapas que vencemos dessa ‘gestação’? Como aprendemos a nos cuidar e a cuidar do próximo? Em algum momento, vai ser possível sair e precisamos estar preparados para os cuidados com a fase seguinte.
Há algum tempo, o cansaço provocado por lidar com os contextos da pandemia têm feito com que as pessoas deixem de se dedicar à prevenção. “Preciso fazer uma visita para manter a minha sanidade mental”, “só uma saidinha rápida, com poucas pessoas, não vai fazer mal”, “vou tirar a máscara um pouco, não vai ter problema”. É preciso entender, no entanto, que diante da volta do aumento de casos e mortes, os cuidados precisam ser redobrados, e não deixados de lado.
Sabemos que vamos ter que conviver com a Covid-19 por algum tempo ainda. Mas, a cada dia que passa, essa lida exige mais cuidado e mais paciência. Em nome do que temos pela frente, em nome da preservação da vida das pessoas, em nome de tudo o que ainda queremos fazer, é preciso respirar fundo, cuidar dos nossos pensamentos e emoções e evitar o risco, quando tivermos a possibilidade de fazê-lo.
Superar essa situação vai depender de todo o esforço que pudermos fazer agora. Das cobranças de providências que fazemos ao poder público por medidas mais contundentes de combate e prevenção, até os cuidados individuais amplamente divulgados. Pegar o futuro entre os braços e retomar os abraços exige uma postura diferente no agora. Nós só temos o agora. É preciso assumir, agora mais do que nunca, um compromisso individual e com a coletividade. Não baixar a máscara, não esquecer o álcool gel, não chegar perto demais e manter distância são medidas mínimas, mas também são cuidado e amor que demonstramos, assim como quando cuidamos das vidas que crescem nos ventres.
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