Blocos de carnaval protestam contra projeto que ameaça desfiles na rua

Proposta quer restringir blocos de rua e pode inviabilizar manifestações culturais na cidade, afirmam organizadores


Por Mariana de Souza*

20/05/2025 às 17h41- Atualizada 20/05/2025 às 17h54

carnaval
Protesto aconteceu na tarde da última terça-feira, no Parque Halfeld, com a presença de diversos blocos da cidade (Foto: Felipe Couri)

As entidades que comandam os blocos que desfilaram neste ano no carnaval de Juiz de Fora realizaram, nesta terça-feira (20), um protesto no Parque Halfeld, em frente à Câmara Municipal, contra um projeto de lei da vereadora Roberta Lopes (PL). O ato reuniu blocos tradicionais e populares, como a Banda Daki, Bloco do Batom, Pintinho de Ouro, Muvuka, Bloco do Servidor e Só Love.

Publicado no dia 18 de março, o projeto prevê alterações no carnaval da cidade, proibindo a realização de blocos de rua com mais de 200 componentes em zonas residenciais, ambientais e comerciais, além de restringir sua presença a menos de 200 metros de hospitais, unidades de saúde públicas e privadas, e templos religiosos.

Além disso, o projeto prevê a punição dos blocos que não cumprirem essas exigências, impedindo-os de obter autorização para realizar novos eventos pelo prazo de 3 anos.

Em nota convocando a mobilização, as entidades argumentaram que o projeto é prejudicial a toda a comunidade. “Essas restrições põem fim aos desfiles e, com isso, desencadeiam uma série de perdas de trabalhos temporários gerados pelos desfiles de carnaval, atingindo centenas de trabalhadores, setores comerciais que atuam com produtos carnavalescos, costureiras, malharias, bares, restaurantes, entre outros.”

Com o tema “Respeite o carnaval”, o protesto marcou o encerramento de mais de 30 dias de mobilização dos blocos.

Lideranças rebatem proposta

Nelson Júnior, presidente da Associação Cultural General da Banda, afirma que todos os blocos estão unidos e que, ao longo do último mês, foram realizadas diversas reuniões entre os representantes da categoria. “De forma geral, acabar com o carnaval de rua de Juiz de Fora seria uma atitude que deixaria a cidade abandonada nesse período. A cidade ficaria fantasma. O que sustenta a movimentação local são esses blocos.”

Ele acrescenta que os blocos passaram por um processo de reestruturação, enfrentando diversas exigências burocráticas para poder desfilar. “Essa é a nossa grande questão. Quando estamos mais organizados, somos surpreendidos com todas essas restrições, que acabam com o carnaval.”

Nelson acrescenta ainda que a manifestação é voltada apenas ao carnaval. “Não se trata de uma manifestação política. Isso foi deixado muito claro nas diversas reuniões que realizamos, com o objetivo de mostrar aos vereadores a importância de manter o carnaval vivo e garantir a liberdade dessa expressão cultural.”

carnaval
(Foto: Felipe Couri)

Vereadora justifica projeto

Em nota, a vereadora Roberta Lopes afirmou que a proposta foi idealizada a partir de denúncias recebidas de moradores idosos, pais de crianças autistas, pessoas com deficiência e outros cidadãos incomodados com os blocos em frente às suas casas. “A população reclamou muito do som alto, das sujeiras, especialmente de urina na rua, reclamaram também de vendas de drogas nessas manifestações e inúmeras brigas.”

Questionado sobre essas críticas, Nelson afirmou que a responsabilidade por esses problemas deve ser cobrada ao poder público. “Se ela está detectando alguma situação localizada, que cobre do órgão responsável por aquilo. Não se pode colocar a culpa no carnaval como um todo.”

A vereadora acrescenta ainda que a proposta busca restringir os blocos em determinadas áreas para garantir o sossego da população. “A proteção e garantia dos direitos das pessoas que nos procuraram foi a razão do presente projeto e, por isso, entendemos a legitimidade da proposição.”

Por fim, a nota declara: “A vereadora entende que a prioridade do nosso município deve ser a saúde e a educação. Estamos vivenciando um verdadeiro caos na saúde de Juiz de Fora, e, portanto, o investimento público deve ser direcionado prioritariamente para essa área”. 

Outro vereadores participam do ato

A vereadora Laíz Perrut (PT), que esteve presente no ato, comentou a respeito da proposta em discussão. “Quando nós, vereadores, aprovamos uma legislação que não é bem recebida pela população, o povo vai às ruas – isso é histórico. E, neste caso, trata-se de um projeto apresentado por uma vereadora do PL, que claramente não teve a aceitação da sociedade.”

Ela destacou ainda a importância cultural e social da festa. “O carnaval representa diversidade. Não é apenas uma celebração: para muitas pessoas, é também trabalho e fonte de renda. É o momento de extravasar, algo de que todos precisamos. Por isso, é fundamental nos mobilizarmos e reafirmarmos que o carnaval vai continuar sendo cada vez mais a cara da nossa cidade. Espero que os blocos cresçam, se fortaleçam e se tornem ainda mais diversos.”

Além dela outros vereadores também assistiram o ato como Cida Oliveira (PT), Pardal (União), Maurício Delgado (Rede), André Luiz (Republicanos) e Negro Bussula (PV).

*Estagiária sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

Tópicos: carnaval

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.