Dia do orgulho LGBT+: conheça histórias de famílias unidas pelo amor
No Dia Internacional do Orgulho, famílias formadas por integrantes da comunidade LGBTQIAPN+ revelam laços de acolhimento e cumplicidade
Todas as famílias felizes são iguais. Existe cumplicidade, companheirismo e acolhimento. O que não as põe à prova de brigas. Vez ou outra pode acontecer uma discussão, mas o importante é como ela acaba. Onde existe amor, no final, fica tudo bem. Nesta sexta-feira (28), é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ e a Tribuna traz histórias de famílias que são felizes também por fazerem parte de uma comunidade cujo principal lema é o amor.
‘Minha mãe tem 4 filhos e nenhum deles é hétero’
A Carolina, o Pablo, a Júlia e a Larissa dividem, além da mesma mãe, uma caminhada de dores e amores na descoberta de si mesmos e de seus lugares no mundo. Os irmãos fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+ e têm orgulho de ostentar a mãe que os criou, Flávia Monaquezi, de 55 anos. Em um vídeo no Tiktok com quase três milhões de visualizações, Flávia e a filha, Júlia, dançam com a legenda: “e minha mãe que tem quatro filhos e nenhum deles é hétero”.
“Eu gosto de ver os comentários”, conta Flávia, rindo. “Tem gente que fala que é sorte, tem gente que comenta ‘coitada’. Coitada? Eu não queria ter outra vida, para mim isso nunca foi uma questão. Eu amo meus filhos e o que mais amo é vê-los livres para realizar as próprias escolhas e serem o que são.”
Cada um dos quatro filhos teve seu processo e tempo para se entender parte da comunidade LGBTQIAPN+. A mais velha, Carolina, de 39 anos, foi casada por 17 anos, tem três filhas e hoje mora com a namorada Paulinha. Pablo foi o primeiro a se assumir e, conforme Flávia, o que mais sofreu com o preconceito que, na época, ainda era mais comum. “Hoje ele está com 35 anos, mora em São Paulo, tem uma carreira brilhante. Mas na época que assumiu, passou por muitas situações difíceis, não só aqui em Juiz de Fora, mas em outros lugares também”. As irmãs Julia e Larissa têm pouco menos de um ano de diferença, uma com 22 e outra com 21 anos. Para elas, namorar meninos ou meninas nunca foi uma questão.
“Eu era muito novinha quando o Pablo começou a namorar o João. Ninguém nunca me contou, eu só fiquei sabendo. Sempre foi algo muito natural. Não cresci achando que as pessoas estranhavam um homem namorando outro homem, ou uma mulher namorando outra mulher. Quando eu entrei na adolescência, percebi que as pessoas sofriam preconceito por isso e achei estranho”, conta Larissa.
Nesse sentido, Larissa enxerga a importância da família no processo de acolhimento. “Querendo ou não, a gente está sempre se assumindo. Tem lugares, do lado de fora, que eu sei que não vou ser bem recebida. Saber que tem gente que sente essa insegurança dentro da própria casa é muito ruim. Para mim era tão natural ser aceita que eu nem valorizava muito. Foi vendo a realidade de outras pessoas, alguns amigos meus, que eu percebi a importância e a raridade disso.”
Sobre o conflito de gerações, a mãe, Flávia, afirma que isso não é uma desculpa para não mudar. Para ela, as pessoas utilizam da diferença de idade para justificar o preconceito. “Eu nasci em um tempo em que o preconceito era natural. De fato as coisas eram diferentes, os ensinamentos eram outros. Mas todo mundo muda. É preciso mudar, a vida é cíclica e a gente tem que se adaptar o tempo todo.” Nessa caminhada, Flávia conta com a ajuda dos filhos, que a ensinam e corrigem com carinho. “Ser ou não LGBT nunca foi uma questão. Nunca me coloquei na posição de achar qualquer coisa. Minha posição, como mãe, é amar. Só isso.”
As duas mães de Sol
Nas histórias para dormir, quando a princesa é acordada por um beijo, no roteiro que Deborah Lisboa, de 36 anos, criou para a filha Sol, de 6, o beijo não vem do príncipe encantado. Por que não uma outra princesa? E se as duas princesas se apaixonassem, construíssem uma família e vivessem felizes para sempre com a filhinha delas?
O objetivo é reproduzir na ficção o que acontece na vida real. Há cinco anos, Deborah conheceu Anna Flora, também de 36 anos. “Nos conhecemos através de amigos em comum e sempre estivemos nos mesmos lugares, e quando percebemos, nos encantamos e apaixonamos. Estamos juntas desde então”.
A Sol é filha de Deborah com o antigo companheiro. Conforme conta a mãe, a companheira, Anna Flora, chegou em suas vidas quando a pequena tinha apenas 1 ano e, desde então, elas constroem um lindo laço de amor, responsabilidade e cuidado. “Até que partiu da nossa pequena menina chamar a Anna Flora de mãe, e assim somos uma família. Ela diz que nasceu da minha barriga e do coração da Anna Flora. A gente não precisa explicar, é pelo afeto que se cria uma família de verdade.”
Desafios surgem, assim como em qualquer família. Conforme conta Deborah, coleguinhas da escola já perguntaram, com tom de curiosidade – e algum estranhamento -, se a Sol tinha duas mães. “Também tivemos uma situação em um hotel em que um pai e uma mãe proibiram a filha de brincar com a nossa quando viram que éramos um casal.”
Para lidar com essa situação, as mães buscam agir com naturalidade e aceitar as pessoas como são. “Convivemos com famílias iguais e diferentes da nossa, quando vamos contar uma história infantil, por exemplo, às vezes substituímos a família tradicional por uma família como a nossa, ou uma família em que só tem a mãe, ou uma avó. Assim, ela tem a oportunidade de se reconhecer e também enxergar outros modelos que não seja apenas o nosso ou o heteronormativo, que já está por todo lado, em todos os desenhos, jogos, propagandas.”