Cirurgia faz Lula repensar
“Se governar com competência, firmeza, deixa de ser subordinado aos interesses dos que usam a política para satisfazer projetos pessoais.”
Os amigos do presidente Lula – o Brasil inteiro, na verdade – torcem para que nestes dias em que vai ficar no Palácio da Alvorada, em convalescença das cirurgias, dos quadris e da pálpebra, o presidente faça uma mea-culpa de tudo que vem acontecendo com o seu governo, que vive numa bateção de cabeça sem fim.
Lula continua muito raivoso, buscando vingança contra os que considera responsáveis por tudo que passou, o que vem desestruturando sua administração. Lula se elegeu sem ter uma maioria no Congresso, sendo obrigado a negociar para ter uma certa tranquilidade e, nesta tarefa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem dando uma inestimável colaboração para tentar aplacar os ânimos do Centrão, que quer abocanhar tudo.
O presidente, em seus dois primeiros mandatos, demonstrou toda sua genialidade política, conseguindo compor uma base de apoio, que não foi eleita com ele, conseguindo até eleger Dilma. Mas os tempos eram outros. O nível político não era tão baixo, e a radicalização da direita e dos aproveitadores não tinha chegado ao ponto que chegou. Ainda por cima, nesse terceiro mandato, Lula, talvez influenciado pela primeira-dama Janja, vem contrariando o Lula que todos conheciam e que agia com mais prudência e autossuficiência.
Na sua convalescença espera-se que reveja seus atos e que comece a governar. Que priorize o projeto Brasil – afinal, são tantos os problemas internos – esquecendo, ou postergando, o sonho de se transformar numa grande liderança mundial. Que entenda ter limitações pessoais – todos nós temos – e que precisa ter uma equipe competente, comprometida com um programa real de governo.
Se governar com competência, firmeza, deixa de ser subordinado aos interesses dos que usam a política para satisfazer projetos pessoais. Lula e sua turma precisam compreender que a mudança de postura é urgente. Que o governo não pode continuar refém de radicais políticos por conveniência, que fingem posicionamentos políticos para a obtenção de vantagens pessoais, que se transformam em votos nas urnas.