Equipe chega a JF para fazer captura da onça-pintada
Especialistas irão definir como será a ação junto com uma comissão já criada na cidade
A onça-pintada avistada no Jardim Botânico de Juiz de Fora, na semana passada, deve ser transferida para outro local. A informação foi repassada em entrevista coletiva organizada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na manhã desta quinta-feira (2). Conforme representantes da instituição, a orientação foi dada por nota técnica emitida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cenap/ICMBio). Uma equipe do Cenap chegou na cidade para trabalhar na captura e condução do animal na noite desta quinta-feira (2). Ainda segundo a universidade, a coletiva foi convocada em virtude da circulação, em redes sociais, de um vídeo da câmera de segurança de um hotel, na Avenida Brasil, na altura do Bairro São Dimas, que registrou imagens da onça-pintada circulando em sua portaria, no dia 26 de abril.
De acordo com a pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, a comissão interinstitucional, organizada para coordenar as ações em relação ao aparecimento do felino, no Jardim Botânico, teve acesso ao vídeo na tarde de quarta-feira e confirmou sua veracidade. “A imagem demonstra claramente o perigo a que a população de Juiz de Fora está exposta. Isso não quer dizer que é um perigo imediato, ou que vá acontecer uma tragédia de uma hora para outra. Tudo que é possível em termos de prevenção e de vigilância da área da Mata do Krambeck e seu entorno está sendo providenciado.”
O trabalho de translocação da onça-pintada será necessário não só para garantir a segurança da população, como também do animal. “A onça deve estar livre, mas em uma área onde ela tenha condições de segurança, onde não seja abatida, ferida ou objeto de caça ilegal, que se constitui um crime ambiental. Todo direcionamento deste coletivo é para que esses princípios sejam garantidos”, afirma a pró-reitora. “Nessa área da Mata do Krambeck, ela não tem condições de se desenvolver como é necessário. Essa área para onde ela vai é preparada para isso, um local onde ela vai ter acompanhamento técnico para continuar vivendo. Não é um cativeiro. A onça estará livre, em habitat adequado, para que possa ter esse desenvolvimento.”
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O local a que Ana Lívia se refere, entretanto, ainda não foi definido. O comitê está avaliando um conjunto de opções para garantir a segurança e preservação do animal. Conforme o professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, Artur Andriolo, com a chegada da equipe do Cenap inicia-se o planejamento para o procedimento de captura e translocação do felino para nova área. “A partir de hoje, com informações mais objetivas, nós vamos começar a estruturar os próximos passos, porque isso envolve uma complexidade, e a captura desse animal é algo bastante delicado. Pode demorar algum tempo. Então nós vamos passar a discutir quais são as estratégias para tornar isso mais efetivo e mais rápido possível.”
Secretário estadual apoia salvaguarda do animal
O reitor da UFJF, Marcus David, recebeu, na tarde desta quinta (2), o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Germano Vieira, o deputado estadual Noraldino Júnior (PSC) e o diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Antônio Malard. No encontro, realizado sob segurança no Jardim Botânico, o secretário declarou apoio às atividades desenvolvidas em prol da salvaguarda da onça-pintada e de proteção de moradores. Vieira disse que os órgãos estaduais de meio ambiente estão à disposição para a obtenção de êxito no desenvolvimento dos trabalhos. Vinculado à Secretaria, o IEF integra a comissão local que reúne sete instituições municipais, estaduais e federais na operação. “É muito importante neste momento termos o apoio da Secretaria e sabermos dessa preocupação”, disse o reitor, por meio da Diretoria de Imagem Institucional. No encontro, a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, e o professor Artur Andriolo, do Departamento de Zoologia da UFJF, relataram as medidas tomadas até o momento pelo comitê.
Entre os participantes da reunião estava o secretário de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano da Prefeitura de Juiz de Fora, Luís Cláudio Santos Pinto. A pasta também faz parte do comitê interinstitucional.
Coleta de dados
No fim de semana passado, uma equipe da UFJF instalou armadilhas fotográficas, no Jardim Botânico, a fim de traçar rotas e conhecer os hábitos da onça-pintada. Segundo o professor Artur Andriolo, os registros irão auxiliar na compreensão da maneira como o animal está usando o ambiente, por meio de identificação das áreas que ele tem frequentado e se há padrões de horários. “Isso auxilia, justamente, a prever circunstâncias adversas, como o animal se evadir da área, ou mesmo planejar adequadamente o procedimento de captura para translocação. Essas informações de comportamento do animal são fundamentais para que possamos, com segurança, dar encaminhamento às próximas decisões.”
Ainda de acordo com Andriolo, não é esperada a circulação de onças-pintadas em áreas urbanas com grande concentração de pessoas. O professor pontua que, mesmo que machos da espécie tenham a tendência de ser mais audazes, o comportamento dessa onça tem sido além do esperado, uma vez que o animal tem tido movimentação mais ampla do que a área estritamente de mata.
Existe uma alta movimentação de pessoas onde a onça já foi avistada, como é a entrada do hotel, além do Jardim Botânico. Na própria região do Jardim, no Bairro Santa Terezinha, há casas, lojas e bares, que tenderiam a afastá-la com os ruídos. Conforme Andriolo, é ainda inusitada a circulação do animal mesmo quando ainda há várias atividades humanas, concentração de pessoas, veículos e culto religioso. No último registro, ele foi visto às 20h.
Cativeiro é descartado
De acordo com o Cenap/ICMBio – referência federal em onças -, a espécie tem hábito solitário e territorialista. São necessários entre 50 quilômetros quadrados a 100 quilômetros quadrados para a sobrevivência de apenas um indivíduo. A área do Jardim não chega a um quilômetro quadrado. É de exatamente 0,827 quilômetro quadrado. Somadas as áreas da Mata do Krambeck e da Mata da Remonta, que formam os maiores fragmentos florestais de Juiz de Fora, o total alcança 5,12 quilômetros quadrados. A soma corresponde a somente 11% do mínimo necessário para a sobrevivência do animal com segurança e oferta regular de presas. Do mesmo modo, a opção por um cativeiro é descartada.
A aparição da onça-pintada, em Juiz de Fora, é motivo de contentamento para os integrantes da comissão e de pesquisadores, visto que a cidade não tem registro oficial da espécie há pelo menos 80 anos. A notícia também alcançou uma repercussão positiva na população. “A presença da onça é um indicativo da qualidade ambiental da área, mas ela não é suficiente para o animal”, ressalta o diretor em exercício do Jardim Botânico, Breno Moreira, que concorda que há riscos para o animal e para população e endossa as medidas que estão sendo tomada
s.
A transferência do animal tem como consequência a contribuição para a reprodução da espécie, pois o felino será levado para uma região com presença de outros indivíduos. Restam apenas 280 exemplares, na Mata Atlântica, que cobre parte do país da região Sul à Nordeste.
Outras aparições
Além das imagens registradas no Jardim Botânico e pelo hotel, cedidas à reportagem, leitores procuraram a Tribuna para relatar a aparição da onça-pintada em outras ocasiões. Entre os relatos, um aponta que o animal já teria sido visto há cerca de um ano: na Mata do Krambeck, próximo à rodoviária, e no Rio Paraibuna, na altura do Bairro Barbosa Lage. Nessas ocasiões, ela estaria próximo à área que as pessoas utilizam para caminhar, ao longo da Avenida Brasil.
Há cerca de quatro dias, transeuntes também teriam relatado a representantes da universidade que a onça-pintada foi vista nas margens do rio, segundo o professor Artur Andriolo. Desta forma, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), que também integra a comissão e irá auxiliar nos procedimentos de translocação do animal, orienta quanto à circulação nas proximidades da Mata do Krambeck. “Em função da mata margear o Rio Paraibuna, temos a preocupação de informar que, no trecho de caminhada muito utilizado pela população, à margem da Avenida Brasil, as pessoas evitem a caminhada ou o ciclismo no período de 17h às 6h, pelo menos nesse momento que estamos procurando os melhores procedimentos na questão da onça”, explica Arthur Valente, representante do IEF em Juiz de Fora.
Conforme a Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, o tenente-coronel do Campo de Instruções do Exército Brasileiro, Tigre Maia, que integra a interinstitucional, entrou em contato com o hotel, ainda na quarta, com o objetivo de confirmar a veracidade das imagens. Imediatamente órgãos de segurança foram acionados. A Polícia de Meio Ambiente trabalhou com a equipe técnica, no Jardim, e fez rondas na região da rodoviária e ao longo do rio à noite. “Estamos atuando em conjunto com a comissão, diuturnamente, visando à integridade física do animal e à segurança da população”, destacou o capitão Flávio Campos, comandante da 4ª Cia de Meio Ambiente da Polícia Militar, por meio da Diretoria de Imagem.
Em caso de o animal ser avistado e em situações de emergência, moradores podem acionar a Companhia pelos telefones 190 e 3228-9050 e o Corpo de Bombeiros pelo 193.
Trabalho em conjunto
A comissão interinstitucional atua em dois grupos: um para ações emergenciais, com integrantes do Corpo de Bombeiros e da Polícia de Meio Ambiente, para casos de incidentes com o animal, e outro de comunicação, com equipes da UFJF, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF), para atuar em conjunto na divulgação de informações. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Exército Brasileiro (Campo de Instruções em Juiz de Fora) também integram a comissão.
O grupo foi reunido a fim de avaliar as ações em relação ao caso da onça-pintada, para manter a segurança do animal e da população. “Estudos técnicos têm sido realizados, e a Prefeitura está acompanhando os trabalhos dessa equipe. A parte da fauna é uma competência do Ibama e do IEF, mas nem por isso deixaremos de estar acompanhando e atentos, como também em relação à segurança dos munícipes, através da Polícia Ambiental e do Corpo de Bombeiros. A Prefeitura estará à disposição para que a gente consiga ter bom êxito nesse trabalho”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano, Luís Cláudio Santos Pinto.
A Polícia Militar do Meio Ambiente, conforme o capitão Flávio Campos, está lançando patrulhas no entorno da Mata do Krambeck. “O objetivo é preservar o local na questão de segurança. Assim, se a onça aparecer em via pública, nós podemos contribuir, de maneira eficiente, para que não haja nenhum incidente, tanto com o animal quanto com as pessoas presentes no local.”
Orientações
Cerca de 30 educadores ambientais do Jardim começaram, nesta quinta, a orientar, pessoalmente, de casa em casa, vizinhos do local. Moradores podem tirar dúvidas e receber orientações sobre segurança, a espécie de onça-pintada e o andamento das ações relacionadas ao caso. Na última segunda (29), representantes de associações de moradores do entorno da Mata do Krambeck tiraram dúvidas e receberam recomendações, em reunião, com parte da comissão interinstitucional, criada para o caso. A visitação e outras atividades, no Jardim, seguem interrompidas.
Atuam na comissão representantes da UFJF, por meio da Pró-reitoria de Extensão, do Jardim Botânico, do Departamento de Zoologia, do Colégio de Aplicação João XXIII e da Diretoria de Imagem Institucional; da Prefeitura de Juiz de Fora, com a Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano e a Secretaria de Comunicação Social; do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); do Instituto Estadual de Florestas (IEF); da Polícia Militar de Meio Ambiente; do Corpo de Bombeiros e do Campo de Instrução do Exército em Juiz de Fora.
Tópicos: onça-pintada