Quando a contagem regressiva, termo que nunca fez tanto sentido em um Réveillon, anunciar a chegada de 2019, o que você estará vestindo? Eu muito já escolhi meu vestuário de acordo com crenças, supertições, o horóscopo ou e um não-sei-quê de fundamentos que diziam me ajudar a conquistar seja lá o que eu estivesse desejando para o ano que viria. Neste ano não. Quando 2018 se despedir e começarmos outra sequência de 12 meses, eu estarei nua, pelada, desnuda, descoberta, como vim ao mundo, indecente, com tudo de fora. Sem nada (sic).
Não, eu não sou adepta do naturismo; não vou passar a virada em nenhum lugar de nudez mandatória, na privacidade de um quarto ou correndo o risco de ser presa por atentado ao pudor em um lugar público. Mas não importa o que eu vista, estarei completamente exposta. No ano que se despede, fui aprendendo, como tanta gente, a me livrar, me despir, como versaria Belchior, supracitadíssimo nesta coluna, das roupas velhas que não me servem mais. Pessoas que seguiram por caminhos da vida pelos quais eu não quero me enveredar, certezas que me aprisionavam, obrigações que eu me impunha e não me levavam a lugar algum, medos que eram âncoras, e uma série de problemas que eu, (sempre) do alto dos meus privilégios, criava. E, claro, gente que só pensa em seu próprio umbigo, justificando seu ódio e seu preconceito como viés de “mudança”, “contra tudo que está aí”. Nem toda mudança é para o bem – alguns só terão esta dimensão na marra.
Mas seja como for, a vida, por melhor e mais fácil que seja, já tem um peso inerente do qual não podemos nos livrar. Para quê, então, usarmos camadas e camadas de vestes que apenas nos sufocam? É como eu me sinto em relação ao ano que vem rompendo aí. Há de ser pesado, por menos pior que possa ser. Por isso mesmo é que não tem cor de roupa, calcinha da sorte ou qualquer patuá sobre a pele que importe. Eu vou estar nua, nuazinha, peladona. Pobre de quem veste coisa demais.