Mulheres comandam roda de samba no Brasil e em JF
Artistas de Juiz de Fora participam do primeiro Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, que acontece neste sábado (24) em todo o país
Assim como em diversas expressões culturais, ou na política, mercado de trabalho, religião, a presença da mulher costuma ser discreta em números, geralmente relegadas à condição de intérpretes ou passistas, mesmo que tenhamos nomes da importância de uma Clara Nunes, Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Alcione, Leci Brandão. Mulheres instrumentistas, então, são ainda mais raras. Essa presença, porém, vem crescendo aos poucos e de forma consistente. Para mostrar a força dessa movimentação, criar novas conexões e incentivar outras a conquistarem seu espaço, acontece neste sábado (24) a primeira Edição do Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, com apresentações em diversas cidades do Brasil e também na Argentina, mais exatamente em La Plata e San Martín de los Andes.
O evento em território nacional abrange dezenas de cidades espalhadas de Norte a Sul, começando por Rio de Janeiro, onde tudo começou, e passando por Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Curitiba, Londrina (PR), Recife, Fortaleza, entre outras, tendo como homenageada neste primeiro ano Beth Carvalho, deixando evidente desde já o objetivo de homenagear, a cada edição, uma personalidade importante para a resistência feminina no samba. E Juiz de Fora também participa do movimento: assim como nas demais localidades, o show tem início marcado para as 17h no Experimental Container Bar, reunindo mais de 40 mulheres, entre cantoras, compositoras, musicistas, percussionistas, MCs, jornalistas, fotógrafas, designers, entre outras.
Uma das responsáveis por organizar o Encontro de Mulheres na Roda de Samba em JF é Andréa Mello. Ela conta que foi questionada pela cantora Ana Costa – que se apresentou na cidade há pouco mais de um mês a convite do Ponto do Samba – como estavam os preparativos para o evento em Juiz de Fora, e ao saber que ninguém havia sido procurado afirmou que a cidade não poderia ficar de fora. “Convidei algumas pessoas (Alessandra Crispin, Juliana Stanzani, Fabrícia Valle, Janaina Castro, Dani Brito, Fábia Melo e Margareth Guiga) e perguntei se me ajudariam a montar esse evento. Elas toparam, e há um mês e meio estamos trabalhando nisso.”
Convocação feita e aceita, era hora de usar as redes de contatos de cada uma para convocar as demais futuras integrantes, num grupo que logo chegou a quatro dezenas de mulheres dispostas a se engajar na iniciativa. “A partir daí, fomos pensando: tem fulana que toca pandeiro, outra que toca violão, e assim uma foi chamando outra. Existem em Juiz de Fora muitos grupos de mulheres, seja de samba ou de tambor, que tocam instrumentos de percussão ou corda, então isso foi fácil: falou com uma, falou com todas, então essa rede foi aumentando mais. E aí também precisamos de fotógrafas, designers, pessoas que já estão trabalhando tanto no backstage quanto no frontstage. Está dando bastante trabalho, mas vai ficar bem bacana”, anima-se Andréa.
Em homenagem a Beth Carvalho, Jovelina…
Outra envolvida na organização, a cantora e compositora Juliana Stanzani diz que o repertório foi separado anteriormente e preparado antes dos primeiros encontros para preparar a apresentação. “Tentamos contemplar nesse repertório músicas que fossem essencialmente vindas de mulheres, sejam intérpretes que eternizaram sambas, sejam compositoras. Teremos músicas eternizadas pela Beth Carvalho, de Jovelina Pérola Negra, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Leci Brandão e outros ícones do samba. E também músicas de compositoras de Juiz de Fora”, adianta.
Juliana lembra a dificuldade para reunir tantas artistas, mas que até isso ajuda a manter a essência da coisa. “A roda de samba em si é um ambiente muito informal, então tudo muito ensaiadinho não é a ideia. O objetivo é que os encontros aconteçam ali na Roda, que as trocas sejam feitas no momento. Está um pouco complexo, mas funcionando na boa. Tentamos contemplar uma cena bem ampla da música de Juiz de Fora com essas mulheres que se interessam pelo samba.”
Visibilidade e exemplo
A cantora, compositora e instrumentista Alessandra Crispin atenta para a complexidade do tema quando se fala do papel da mulher no samba, seja em Juiz de Fora ou no resto do país. Por isso, ela considera que o Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba vem para consolidar e empoderar tanto as compositoras quanto as mulheres instrumentistas no que diz respeito ao seu espaço nas rodas de samba. “As mulheres sempre vinham como passistas ou intérpretes, eram os locais pré-estabelecidos para elas no samba. Mas a gente vem demonstrando aos poucos que sabe tocar um pandeiro, um cavaquinho, que sabemos escrever belos sambas, e esperamos consolidar nossa força nessa Roda Samba”, diz.
E nunca é demais lembrar, acredita Alessandra, que a partir dessa visibilidade é possível que o Mulheres na Roda de Samba sirva de exemplo para outras que tenham o desejo de cantar, compor e empunhar seus instrumentos nos eventos dedicados ao gênero. “Teremos 40 mulheres, algumas vindas de outros ritmos, estilos musicais. É a maneira de mostrar cada vez mais que a mulher tem que ocupar o espaço que ela quiser e que tem força, sim, principalmente no samba e na MPB. Tanto que nosso repertório homenageia a Beth Carvalho e várias outras que lutaram para que a gente estivesse aqui lutando pelas próximas que virão.”
“Juiz de Fora tem muita mulher boa, muita percussionista, cantoras, compositoras, e não poderíamos ficar fora desse evento. Mas confesso que no início não sabia que seria tão grandioso, até o pessoal do Rio de Janeiro não acreditava que haveria essa adesão. A mulherada do Brasil inteiro aderiu, as mulheres estão encantadas e felizes por participarem deste momento”, conclui Andréa Mello.
ENCONTRO NACIONAL DE MULHERES NA RODA DE SAMBA
Neste sábado, às 17h, no Experimental Container Bar (Avenida Rio Branco 3.162). Os shows serão transmitidos ao vivo pela página do Facebook Mulheres na Roda de Samba.
Tópicos: música