Copa do Mundo e seu poder de persuasão
Atualmente vivemos em um cenário político e econômico regado de incertezas e instabilidades. Não precisamos nem acompanhar frequentemente os conteúdos jornalísticos para percebermos que tudo está mais caro, basta irmos a um supermercado ou a um posto de gasolina para detectarmos que nosso dinheiro cada dia tem feito menos proeza.
Na política, o cenário é talvez um dos piores da história. Enquanto as várias operações com nomes pomposos enchem os olhos da mídia e de muitos brasileiros com algumas prisões aqui e acolá, a realidade é que todos nós sabemos que, infelizmente, o buraco é muito mais embaixo, já que é visível que quase toda a classe dita “política” está envolvida em ao menos um dos esquemas de corrupção dessas grandes operações, e o pior, muitos deles sabem que nunca serão pegos.
No entanto, após vivenciarmos por mais de um ano um cenário totalmente difícil, tanto na política quanto na economia, como principalmente no dia a dia do brasileiro, que visivelmente está pagando por tanta corrupção e medidas impopulares e tem sua condição de vida cada vez mais precarizada, chega 2018, e com ele a Copa do Mundo.
Nesse momento, a mídia começa a deixar de lado todos os problemas que estamos passando, pois a Copa do Mundo sim é algo importante e significativo. Haja vista, é transmitida em mais países do que nações que estão ligadas à ONU. Por isso o sonho do hexa passa a aflorar no coração do brasileiro, não apenas aquele que gosta de futebol, mas também para o que não tem time e torce para o Brasil.
A partir da narrativa de que a conquista do hexa campeonato é possível, todos voltam seus olhares para o Neymar, camisa 10 e que se recupera de lesão, Gabriel Jesus, Coutinho, Marcelo, entre outros tantos craques da Seleção Brasileira. E com isso todo o restante, incluindo os inumeráveis problemas sociais, políticos e econômicos que temos passado, fica em segundo plano, afinal: “somos o país do futebol”, “somos a única seleção penta campeã do mundo”.
E é justamente após o fenômeno da Copa do Mundo, logo quando ela termina, é que volta à tona o cenário político, agora não mais queimado e afundado em escândalos, mas sim o político que quer o bem da nação, aquele que faz e acontece, que tem as melhores propostas, que é um símbolo de renovação e que pede votos para os mesmos que deixou desassistidos durante todo o seu mandato.
Coincidência ou não, nos meses de junho e julho, temos a Copa do Mundo, que juntamente com o carnaval, tem o poder de parar totalmente o país, e, logo em outubro, temos as eleições para presidente, senador, deputados federais e deputados estaduais.
E é exatamente após o momento de euforia com aquele que está no mínimo entre os três maiores eventos esportivos do mundo, que se apresentam as eleições. Basta um mês de sumiço da classe política para que eles voltem a se articular e retornem ainda mais fortes, contando com o esquecimento do brasileiro para conseguirem votos.
Por maior que seja o impacto da Copa do Mundo em todas as esferas, não podemos nos esquecer do quanto a política passa por um momento frágil e do quanto é necessário que a população brasileira esteja cada vez mais atenta, a fim de investigar a fundo o perfil dos candidatos e de escolher aqueles que de fato possam transformar esse cenário de instabilidade e de incertezas que temos vivido dia após dia.
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