A politicagem


Por Celso Pereira Lara, funcionário público aposentado

25/07/2018 às 07h25

Política pode não ser uma profissão, mas ela é a ocupação mais bem paga, pelo menos aqui no Brasil. Os políticos se divertem em seu local de trabalho, lutam pela aprovação de matérias de seus interesses e ainda recebem remunerações estratosféricas no final de cada mês, enquanto a população, meio que alienada e escarnecida, fica anestesiada diante das sandices aprovadas no Congresso. Parece que os eleitores já se acostumaram a ver as notícias do dia a dia no meio político, mesmo sabendo que são acontecimentos dos quais eles discordam.

E, para movimentar um pouco mais o espetáculo circense, adivinhe quem se arrependeu de deixar a vida pública? Ele mesmo, o Tiririca, que se dizia decepcionado com a política brasileira e envergonhado com o que viu no período de seu mandato. Ele tentará a reeleição pela terceira vez, e certamente será reeleito pelos seus fiéis seguidores, pois eles sabem que pior do que está não fica!

O que se vê muito nas redes sociais é uma campanha pela não reeleição, ou reeleição zero, como alternativa de salvação para o país. Há exceções, sim, como em todas as regras, todavia os escolhidos deverão atender a critérios rigorosamente aplicados, como ficha limpa, atuação dinâmica, projetos apresentados e os aprovados. Aqueles que apenas ficam se fazendo de moscas mortas não merecem a reeleição. Tem que ser participativo, representante de fato, lutar em benefício da população e do crescimento do país, acima de tudo. Marcar presença não basta!

As eleições se aproximam, e percebe-se o clima de medo que envolve os parlamentares, mesmo porque eles sabem muito bem o que fizeram nos últimos governos. Todos os malfeitos estão expostos na internet, com a imagem e o nome dos autores, e tentar se apresentar com promessas de renovar a política seria a pior das falácias até então produzidas. Os citados em escândalos tentarão a todo custo desdizer as acusações, por meio de argumentação falaciosa, para convencer o eleitorado mais uma vez. Aos eleitores, cabe o exame de consciência na hora do voto!

A movimentação desesperada em busca de alianças faz com que os partidos desprezem seus propósitos, prevalecendo os interesses pela reeleição dos candidatos, numa espécie de salve-se quem puder. A ideologia partidária fica de lado, deixando o eleitor confuso, mas o que importa mesmo é seguir em blocão, com o velho bordão: juntos somos mais fortes! São alianças espúrias, anunciando o continuísmo dos governos, mas fingem vender ao povo a ideia de renovação diante dos escândalos efervescentes. O que se espera mudar nessa política quando os atores são reeleitos?

É certo que muitos senadores tentarão concorrer à Câmara, visando garantir o foro privilegiado e escapar da condenação por estarem envolvidos em ilícitos. Na Câmara, muitos deputados mudaram de partido, sem se importarem com a fidelidade partidária, apenas para se esconderem numa sigla menos visível, pois sabem que serão punidos pelos eleitores que acompanham as notícias. Nesse mesmo trem, embarca a candidatura de Dilma ao Senado por Minas Gerais, e dessa forma Dilma estará fazendo jus à parte boa do seu impeachment. Juntos e misturados, esses candidatos sabem muito bem que somente a reeleição poderá salvá-los da condenação feita pelo povo esclarecido e pela Justiça brasileira!

No período eleitoral, as propagandas políticas terão o momento mais cômico da nossa história, em que os candidatos cinicamente apresentarão suas mesmas propostas, como se fossem novidades e como se nada tivesse acontecido durante o seu mandato. A politicagem cria regras para garantir mandatos sucessivos e, dessa forma, acobertar políticos desonestos.

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