Uma sucessão maluca
Nos mais de 50 anos em que acompanho a vida política brasileira, nunca havia visto uma sucessão presidencial como a que está em curso. É bem verdade que, ao longo desse período, várias dessas sucessões foram por escolhas indiretas e, até onde se sabe, elas nunca foram tranquilas, com disputas de grupos militares. Mas agora, faltando pouco mais de 70 dias para irmos às urnas, não temos uma candidatura que empolgue e, pior, nem perspectiva de que se consiga construir uma ao longo da campanha.
O resultado disso é que, por mais absurdo que seja, Lula está preso, por corrupção, mas aparece liderando as pesquisas, com folga. O candidato Bolsonaro, que também não se sabe como chegou lá em cima nas pesquisas, já começa a fazer água e até agora não conseguiu coligar com ninguém. Por isso, e por sua própria fragilidade, Bolsonaro não deve chegar ao segundo turno.
O senador Álvaro Dias, ao contrário, vai conquistando mais e mais eleitores, certamente por ser um candidato sério e não estar enrolado em acusações. O candidato tucano Geraldo Alckmin, depois de quatro bem-sucedidas administrações em São Paulo — um outro país dentro do Brasil —, começou a ganhar fôlego com o apoio do Centrão e a possibilidade de ter o empresário Josué Alencar como seu vice.
O nome do PDT, Ciro Gomes, poderia estar com melhores e reais perspectivas de vitória, não fossem o seu destempero verbal e a sua postura de valentão, além, naturalmente, do discurso atrasado. O ex-ministro Henrique Meirelles ainda briga dentro do seu partido, o MDB, para viabilizar o seu nome. E Marina Silva patina. Dessa forma, o brasileiro está diante de um “samba do crioulo doido”. Vivemos internamente uma fase de vazio de lideranças. As que apareceram nos últimos anos ou eram ídolos de pés de barro, sem consistência, ou foram ídolos que meteram os pés no barro da corrupção, aumentando a frustração e alimentando a apatia que se vê hoje.