Andamos apressados demais
Walber Gonçalves
de Souza<
Professor e membro das
Academias de Letras de
Caratinga e Teófilo Otoni
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Sem que percebamos, a correria está tomando conta das nossas vidas. A pressa em tudo resolver ou ver as coisas acontecerem, aos poucos, dita um ritmo alucinado à nossa existência. Gastamos nossas vidas numa forma tão frenética que nem nos damos conta de que estamos andando apressados demais.
Aos poucos, nos acostumamos e achamos normal viver assim. Podemos fazer uma simples comparação: da mesma forma que ao comermos apressadamente conseguimos matar a fome, mas corremos o risco de não sentir o sabor da comida, vivemos nossas vidas. Acordamos, respiramos, fazemos um monte de coisas durante o dia e, mesmo assim, às vezes, temos a sensação de que não fizemos nada. Justamente porque “matamos a fome”, mas não sentimos o gosto das coisas. Realizamos muitas coisas, mas devido à correria não sentimos e/ou vivenciamos em plenitude o que realizamos.
O desdobramento desta correria se manifesta de diversas formas, e nem sempre os resultados são positivos. Acredito que seja justamente o contrário. Queremos a cada dia que as coisas aconteçam rápidas demais, como um vício compulsivo.
Nas redes sociais, não suportamos textos, queremos frases de efeito, imagens, imperativos categóricos que acabam por criar imposições de pensamento, pois não provocam reflexões, apenas afirmam, impõem. Um dia desses, enviei para um grupo de WhatsApp um texto do tamanho de uma lauda, uma folha de papel ofício. Logo em seguida, o primeiro comentário: se eu não poderia enviar a sinopse do texto. Aí fiquei pensando em como elaborar uma sinopse de um texto de uma folha. Mas não deixa de ser os sinais dos tempos.
As músicas estão cada vez mais curtas, praticamente não passam de três minutos, e mesmo assim a letra da composição é repetida algumas vezes neste pequeno intervalo de tempo. A música de sucesso é curta, rápida, não provoca, não tem conteúdo reflexivo, quer apenas preencher o curto e rápido momento.
Na televisão, não é diferente, qualquer programa que quer alcançar o sucesso, de acordo com os padrões atuais, é produzido com a utilização de várias câmeras. As cenas precisam ser alteradas rapidamente, com poucos segundos; o jogo de imagens tem que ser alucinante.
Veja o trânsito das nossas cidades, quanta correria sem necessidade, quantos acidentes poderiam ser evitados, quanta falta de educação por não ter paciência em respeitar as leis do trânsito.
Os relacionamentos interpessoais também não ficam de fora. Na velocidade com que trocamos de roupa trocamos de relacionamentos. Basta alguém usar conosco alguma das frases de efeito que aprendeu nas redes sociais para que a amizade seja desfeita, o namoro acabe, o casamento se finde. Na velocidade dos relacionamentos, a competição para quem já “pegou” mais pessoas durante a mesma noite. Sinais dos tempos!
Queremos encontrar tudo pronto, uma legítima sociedade do “fast-food”. Uma sociedade da comida rápida, dos relacionamentos rápidos, da leitura rápida, dos programas rápidos, de tudo rápido demais.
E na rapidez, paulatinamente, perdemos a paciência, não conseguimos desfrutar e perceber a essência das coisas. Aos poucos, corremos o risco de ficar fúteis demais sem nos darmos conta de tudo que está acontecendo ao nosso redor. A rapidez que gera a superficialidade espanta a formação da consciência, do conhecimento, do entendimento, da sabedoria.
É claro que a rapidez se faz necessária em muitos casos, e nem tão pouco podemos comparar a falta dela ao marasmo ou a uma lentidão que beira a falta de vontade de realizar as coisas. Mas que estamos andando apressados demais estamos; e no conjunto da obra a pressa não proporciona grandes ganhos para a sociedade; pelo que podemos notar, verificamos plenamente o contrário. Se quisermos viver melhor, é preciso ter coragem de desacelerar.