Em defesa da vida


Por Professora associada de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFJF

16/08/2018 às 07h00- Atualizada 16/08/2018 às 07h35

Quando observo as discussões acaloradas a respeito da temática do aborto, considero oportuno posicionar-me diante da sociedade, como singela contribuição, após 30 anos exercendo a ginecologia e a obstetrícia. Apregoa-se a legalização do aborto como caminho para o direito da mulher sobre seu próprio corpo. Eu pergunto: qual o direito reservado ao feto guardado no ventre materno?

Elencam estatísticas avassaladoras sobre mortalidade. Porém, o aborto, que igualmente ceifa vidas, também não robustece esses números? Desnudam a miséria; porém minimizamos a pobreza com mais flagelo?

Os índices de ignorância não deveriam ser combatidos com galardão da educação e a distribuição do conhecimento?

Quando observamos que o tempo é o que distancia o feto do homem, lutamos realmente pela vida quando destruímos o homem no seu berço primeiro?

Apontamos para os índices de violência, entristecidos com desfechos desanimadores. Porém, através do aborto, igualmente, não trucidamos a vida no seu nascedouro?

Acreditamos muito sermos cristãos, envolvidos pelas palavras de nosso Nazareno: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida”. Afinal, de qual lado nos encontramos? Da vida ou da morte?

Quando nos referimos ao conceito amplo de saúde, qual a condição emocional das mulheres que optam pelo aborto? Os consultórios não estão cheios de consciências angustiadas por escolhas que o tempo teima em não apagar?

Ao contrário, não testemunhamos alegrias incomensuráveis naqueles corações que, torturados por dilemas dessa natureza, optaram pela vida, ainda que diante de enfrentamentos acerbos?

Também não testemunhamos filhos com personalidades admiráveis se revelarem diante de mães que desistiram da opção pelo aborto, enquanto ainda desesperadas por questões circunstanciais? Não vemos nas mães amparadas por aqueles que cogitaram sacrificar imagens fixadas nos escaninhos dolorosos de sua memória?

O que dizer daqueles que escaparam das tentativas frustradas da interrupção da gestação? Não identificamos, muitas vezes, corações que parecem iluminar a noite escura de muitas famílias? Dados negativos não deveriam ser trabalhados por escolhas que valorizassem a vida e não a morte?

Por fim, questiono ao intelecto daquele que escaneia essas linhas: acredita você que a vida apenas começa no berço e se encerra no túmulo? Acredita você que a vida não merece uma análise mais profunda, em que se reflexione além da superfície e se aprofunde sobre seus aspectos científicos, éticos, morais, filosóficos e religiosos?

Por fim, não seria a vida um manancial de oportunidades e desafios, vislumbres e expectativas, chance de progresso, bênção de experiências e um verdadeiro oceano de possibilidades para amar?

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