Privatizações indigestas
Falar em privatizar a Cemig, obra do saudoso governador e ex-presidente da república Juscelino Kubitschek de Oliveira, além de indigesto, é até imoral. Ela foi fundada por JK para que Minas Gerais pudesse se ver livre do grande problema da época que era falta de energia elétrica. Trabalhei no IBGE, à época localizado no 18º andar do edifício Acaiaca, e era obrigado a subir todos os andares a pé por falta de energia elétrica para os elevadores. As empresas existentes na época não eram capazes de atender a demanda por esse importante fator de desenvolvimento econômico e social. A Cemig formou o famoso tripé, ou quadripé do desenvolvimento mineiro ao lado da Cia.de Distritos Industriais de Minas Gerais (CDIMG), da Copasa e até da Codemig, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais.
Falo da extinção da CDIMG com grande mágoa e emoção, porque, foi ela que ajudou a conduzir Minas Gerais para, nos anos 70, produzir grandes projetos de desenvolvimento mineiro como a Fiat Automóveis, o polo de desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte e o polo sul mineiro constituído dos distritos industriais de Extrema, Pouso Alegre, Itajubá, Santa Rita do Sapucaí e outros mais. É um conjunto de áreas industriais que dispensa comentários porque, sem eles, a história do crescimento mineiro que suplantou em duas vezes mais nos anos 70/80 o índice de desenvolvimento de outros estados como São Paulo e o Rio de Janeiro seria outra.
Participei ativamente como técnico e economista da CDIMG por 25 anos dos grandes projetos de implantação de empresas em Minas Gerais como a Fiat Automóveis que se localizou em Betim. Outro projeto indigesto é a privatização da Copasa, que fornece água tratada de qualidade para diversos municípios mineiros, além dos esgotos sanitários. Sem a Copasa, que surgiu pela absorção da Cia Mineira de Águas e Esgotos (Comag), vários municípios não teriam condições técnicas e econômicas para resolver esse importante problema social.
A Codemig, que absorveu a Cdimg sem, contudo, resolver e fazer o que ela fez, também, é uma tentativa de injuriar a economia mineira porque os municípios de porte médio ou pequeno não possuem condições por si próprios resolver problemas de crescimento e desenvolvimento. Além de piorar ainda mais problemas de desenvolvimento, a Codemig passou a cuidar das jazidas do importante minério nióbio, mas, deixou de lado os vários outros problemas de desenvolvimento mineiro. Só por deter as principais jazidas de nióbio do Brasil ela também não deve ser privatizada. Aí vai um problema de administração, nada mais.
As colocações que faço neste artigo, se dão porque fui um importante colaborador, incentivador e técnico em projetos de desenvolvimento mineiro. Basta contar e enumerar todos os projetos que foram para o sul mineiro, como a fábrica de helicópteros em Itajubá, que só veio para Minas Gerais depois da intensa colaboração da extinta Cdimg. Só por essas colocações, chamo a atenção para as pretendidas privatizações do governador Romeu Zema. Não é sem razão que a Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais tem recusado privatizar todos esses projetos que não são privatizantes mas, de interesse econômico e social.
O novo presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Tadeu Leite, é político de grande articulação e nada garante que ele defenderá projetos privatizantes contrários aos interesses da população. Vender projetos mineiros que dão lucro será objeto de recusa da opinião pública. No primeiro mandato, Zema vendeu mal as privatizações e ainda viu seu governo envolvido nas discussões da Cemig. O ex-presidente da Assembleia foi fator impeditivo das privatizações mas, o público também é.