Neurocientificamente mulher

‘Há identidades que fogem ao padrão. Homens delicados e sensíveis, mulheres fortes e brutas’


Por Ferdí Mendes, psicanalista, neurocientista especialista em identidade, autoestima e reabilitação das emoções e fundadora da Escola Jiah

12/12/2023 às 07h17

Coisa de mulher. A neurociência tem se dedicado a compreender como o cérebro humano funciona e afeta nossas escolhas e nossos comportamentos, incluindo essa construção de gênero que sustenta culturalmente que algo seja considerado “coisa de mulher”.
Neurocientificamente a gente pode afirmar que os cérebros feminino e masculino possuem algumas diferenças em relação à amígdala e ao córtex pré-frontal. A amígdala desempenha papel fundamental no processamento do medo, da ansiedade, do estresse e é responsável pela resposta de luta ou fuga em situações de perigo.

Já o córtex pré-frontal está envolvido no planejamento, no pensamento crítico e na tomada de decisão, ajuda a regular a resposta emocional da amígdala – e é nesse equilíbrio que se esconde a diferença.

As mulheres tendem a planejar e ponderar cuidadosamente antes de agir, enquanto os homens tendem a agir rapidamente em situações extremas. Mas essa distinção com base em gênero, apesar de influenciar e reverberar na maneira com que homens e mulheres se comportam, é comprovada neurocientificamente?

É aí que mora o perigo! É importante que essas questões sejam abordadas de forma inclusiva, pois essas diferenças são apenas tendências e não se aplicam a todos. Há identidades que fogem ao padrão. Homens delicados e sensíveis, mulheres fortes e brutas. Diferenças biológicas não determinam completamente o comportamento humano e não devem ser usadas de maneira isolada para justificar estereótipos de gênero, pois essa construção também sofre influência de fatores sociais e culturais.

Tem coisa que é de mulher e tem coisa que é de homem. Isso acontece porque criamos meninas para que sejam princesinhas delicadas e cuidadosas e criamos meninos para que sejam proativos, corajosos e independentes. A gente estimula o cérebro humano generalizando tudo, e esse estímulo tem consequências. Continuamos intolerantes, sustentando essa guerra de extremos e reclamando do ponto em que chegamos.

Talvez a mudança esteja exatamente em estimular todas as pessoas para que atravessem a vida com mais harmonia e liberdade, para que sejam mais empáticas e ao mesmo tempo corajosas, cuidadosas e proativas, delicadas e independentes.

A neurociência pode ajudar a entender como o cérebro humano funciona, mas para isso é importante reconhecer e valorizar as diferenças, as individualidades, em vez de fazer generalizações. Sendo neurocientificamente coisa de mulher ou não, o importante é respeitar e garantir a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, sem discriminação, intolerância ou preconceito.

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