São José, um operário
Foi em 1955 que Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário, fazendo-a coincidir com a comemoração mundial do 1º maio. Ao fazê-lo, o Papa expressou a solidariedade da Igreja católica com as lutas operárias, especialmente aquelas que reivindicam a redução da jornada de trabalho e a proteção contra acidentes e doenças decorrentes do trabalho. É preciso lembrar que desde 1891, quando foi publicada a Encíclica Rerum Novarum, a Doutrina Social da Igreja tinha firmado sua posição diante da chamada Questão social, defendendo o trabalho contra sua exploração abusiva.
Essa doutrina foi-se atualizando ao longo do tempo, culminando com São João Paulo II, que em 1981, durante sua visita ao Brasil, referiu-se à “nobre luta pela Justiça Social”, e na encíclica Laborem Exercens, afirmou, sem titubeios, a eminente dignidade do trabalho humano e sua primazia sobre o capital.
Os textos oficiais, porém, exigem estudo para serem compreendidos, enquanto a figura simpática de São José segurando sua ferramenta de trabalho consegue passar a mesma mensagem de modo iconográfico. Daí o valor didático de a Igreja católica celebrar a festa de São José Operário na mesma data da celebração mundial das lutas pelos direitos trabalhistas. Ela junta sua voz ao clamor dos movimentos populares, tão apreciados pelo Papa Francisco, reafirmando que “Terra, Teto e Trabalho” são direitos de todo ser humano e que a Igreja tem por missão fazê-los vigorar em todas as sociedades da Terra.
São José Operário tornou-se patrono de muitas comunidades e paróquias situadas em bairros de periferia, onde o povo excluído das benesses do mercado festeja o esposo de Maria e pai de criação de Jesus por sua condição de trabalhador manual. Esse povo trabalhador identifica-se com ele por terem semelhantes condições de vida: chefe de família, vivendo pelo labor de suas mãos, economicamente remediado – como popularmente se diz – e sempre sujeito a acidentes e doenças decorrentes do trabalho. São José Operário, morador de uma comunidade da Galileia de onde se dizia vir nada de bom, estaria bem à vontade entre os operários e operárias do Brasil de hoje, na mesma luta por um salário que sustente dignamente a família sem ter que sujeitar-se ao trabalho temporário ou precarizado.
Não basta, contudo, a simpatia de São José para a Igreja católica fazer-se mais presente nas classes trabalhadoras que ela tinha perdido para os partidos socialistas e anticlericais. Embora sua Doutrina Social ensine que o trabalho tem primazia sobre o capital, paira ainda no ar a suspeita de que a hierarquia da Igreja tem pouca confiança nos leigos e leigas, especialmente os que pertencem às classes trabalhadoras, participam de sindicato, movimentos populares ou lutas políticas. Para sinalizar essa confiança nos leigos e leigas que, dentro do mundo do trabalho lutam para instaurar aqui uma sociedade onde reinem a Justiça, a Paz e o Cuidado com a Casa Comum, seria muito oportuno o Papa reconhecer a santidade de outros operários e operárias, além do nosso bom São José.