Bons e velhos tempos
Para uma possível transformação da Amac, com nova feição jurídica, e na sequência de sua trajetória na execução da Política Pública Municipal de Assistência Social, desejo apresentar aqui o meu “testamento vital” sobre esta importante associação para a cidade de Juiz de Fora. Nos últimos anos, a Amac está absorvida por questões jurídicas/administrativas diante das intervenções do Poder Judiciário e das autoridades competentes, na perspectiva de encontrar um melhor caminho, no tocante à natureza jurídica; ela, que é prestadora de serviços socioassistenciais à população, de crianças a idosos. Mais do que estas questões que trazem muita insegurança a todos os funcionários, desejo escrever um pouco sobre a existência da Amac, notadamente, na construção das relações humanas estabelecidas ao longo dos seus 30 anos de vida.
Minha passagem pela associação – foram 18 anos – está grudada na memória, de uma maneira muito viva, e tenho muito o que agradecer a Deus, às diversas autoridades, aos colegas de profissão, aos companheiros de trabalho, aos próprios idosos (as) pelas conquistas alcançadas na direção de ações públicas voltadas para a velhice em nossa cidade. Estou plenamente convencido de que o trabalho social realizado alarga e aprofunda a biografia de quem o realiza. E não foi só comigo. Temos na Amac um grupo considerável de profissionais competentes, dedicados e abnegados, os quais, todos os dias, religiosamente, se esforçam para o alcance de melhores condições de vida para as pessoas que precisam da política pública de assistência social.
O trabalho executado nesta área tem lá as suas especificidades e idiossincrasias, ainda mais num país como o nosso, campeão de injustiças sociais. A produção da miséria pelo capitalismo contemporâneo atinge em cheio as famílias, com suas crianças, seus adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres idosas que vivem na periferia ou são colocados à margem de seus direitos sociais e de cidadania. Este universo chega ao cotidiano do (a) trabalhador (a) social travestido de máscaras sociais para a sobrevivência diária de todos eles: são crianças que deixam de brincar; adolescentes e jovens que deixam de estudar; adultos que deixam de trabalhar e pessoas idosas que precisam continuar vivendo (?).
Na vivência do processo de trabalho da Amac, na riqueza do seu dia a dia, aprendi muito: a história humana, e a minha não foi e não é nada diferente, só tem sentido se for compartilhada, e isso, durante o tempo em que estive no Pró-Idoso, fizemos com força e bem. A Amac, como diria Gil, na música, “me deu régua e compasso”. E cuidei de fazer minha partitura, juntando bons e querido (as) amigo (as) nesta caminhada. Outros tempos caem sobre nós. No realinhamento de sua missão institucional, a Amac pode “desaparecer” ou deixar de ter o que vivi nos períodos anteriores, até 2004. Parece-me que o entusiasmo pela causa coletiva está murchando; o envolvimento do Poder Público mudou; e a paixão ou compaixão que subia e descia os morros há muito se perdeu; a alegria nos corredores quase não se diferencia da tristeza silenciosa das paredes que separam uma sala da outra.
Espero que, para a nova realidade que se vislumbra para o futuro da Amac, eu possa acordar sereno deste saudosismo primário, quite com a consciência pelo dever cumprido, renovar a crença em outros e mais sonhos – afinal de contas, foi esta a grande lição que a Amac nos ensinou: sonhar! Para não assistir, com tristeza, ao apagar das luzes, de uma noite de Natal, que, um dia, a história presenciou no encantamento produzido pelo Coral dos Meninos e Meninas dos Curumins, que cobriu a cidade de esperança. Bons e velhos tempos!
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