Alzheimer, epidemia anunciada

por Mario Eugenio Saturno, tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)


Por Tribuna

09/07/2017 às 05h00- Atualizada 13/07/2017 às 08h32

“É certo que, se você tem cérebro, corre risco da doença. E, com expectativa de viver até os 85 anos, quase metade terá a doença, e a outra metade será cuidadora. Ninguém está imune”

O Governo dos Estados Unidos da América está preocupado com a doença de Alzheimer. De acordo com o relatório anual da “Alzheimer’s Association”, divulgado dias atrás, neste ano, a cada 66 segundos, um americano irá desenvolver a doença. E, até 2050, esse número deverá dobrar, um doente a cada 33 segundos. E essa tendência deve ser repetida em todo o mundo. Em 2016, o “World Alzheimer’s Report” estimou que 47 milhões de pessoas em todo o mundo tinham demência.

Um novo relatório da “Alzheimer’s Disease International” traz o estudo de pesquisadores do King’s College London e da London School of Economics and Political Science (LSE), que revela que a maioria das pessoas com demência ainda não recebeu um diagnóstico, e muito menos cuidados de saúde abrangentes e contínuos.

Noventa por cento das pessoas com demência estão em países de baixa e média renda. Metade das pessoas com demência em países de alta renda ainda não foi diagnosticada. E estima-se que o número de pessoas diagnosticadas deverá triplicar até 2050. E, o pior: enquanto que, nos últimos 15 anos, as mortes por doença cardíaca, o assassino número 1 dos americanos, diminuíram 14%, também as mortes por HIV diminuíram em 54%, as mortes por acidente vascular cerebral, em 21%, e as mortes por câncer de próstata, em 9%. Em suma, as mortes causadas pelas principais doenças estão diminuindo, exceto as mortes causadas pela doença de Alzheimer, que tiveram um aumento de 89%.

Aquelas doenças diminuíram graças a muitos investimentos em pesquisas, que produziram tratamentos ou mesmo a cura. O problema principal do Alzheimer é o financiamento. Há muitos estudos sobre a doença, especialmente estudos genéticos, mas não há fundos suficientes para criar tratamentos.

O custo para a sociedade é crescente. Em 2017, os custos totais para cuidar dos que vivem com doença de Alzheimer e outras demências atingiram US$ 259 bilhões. Para os planos de saúde, o Alzheimer já consome um em cada cinco dólares do Medicare / Medicaid. Para a próxima década, estima-se que será um em cada três, ou seja, com esses custos, a doença de Alzheimer colapsará o Medicare / Medicaid.

A doença ainda afetará a força de trabalho e a economia. Cada família afetada terá que cuidar dos doentes em casa, além de se ausentar no trabalho para levar os doentes ao médico. E há ainda o custo oculto dos cuidados não remunerados. Em 2016, estima-se que haja 18,2 bilhões de horas de assistência não pagas, uma contribuição para a nação avaliada em US$ 230 bilhões.

A doença de Alzheimer é uma epidemia, e o sistema de saúde não está preparado para apoiar os cuidadores. O custo da doença é uma realidade que logo afetará todos, dizem os especialistas. Muitos pensam que o Alzheimer não os afeta por não ser velho ou por não ter um doente na família, julgam não ser seu problema. Porém é certo que, se você tem cérebro, corre risco da doença. E, com expectativa de viver até os 85 anos, quase metade terá a doença, e a outra metade será cuidadora. Ninguém está imune.

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