Alzheimer, epidemia anunciada
por Mario Eugenio Saturno, tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
“É certo que, se você tem cérebro, corre risco da doença. E, com expectativa de viver até os 85 anos, quase metade terá a doença, e a outra metade será cuidadora. Ninguém está imune”
O Governo dos Estados Unidos da América está preocupado com a doença de Alzheimer. De acordo com o relatório anual da “Alzheimer’s Association”, divulgado dias atrás, neste ano, a cada 66 segundos, um americano irá desenvolver a doença. E, até 2050, esse número deverá dobrar, um doente a cada 33 segundos. E essa tendência deve ser repetida em todo o mundo. Em 2016, o “World Alzheimer’s Report” estimou que 47 milhões de pessoas em todo o mundo tinham demência.
Um novo relatório da “Alzheimer’s Disease International” traz o estudo de pesquisadores do King’s College London e da London School of Economics and Political Science (LSE), que revela que a maioria das pessoas com demência ainda não recebeu um diagnóstico, e muito menos cuidados de saúde abrangentes e contínuos.
Noventa por cento das pessoas com demência estão em países de baixa e média renda. Metade das pessoas com demência em países de alta renda ainda não foi diagnosticada. E estima-se que o número de pessoas diagnosticadas deverá triplicar até 2050. E, o pior: enquanto que, nos últimos 15 anos, as mortes por doença cardíaca, o assassino número 1 dos americanos, diminuíram 14%, também as mortes por HIV diminuíram em 54%, as mortes por acidente vascular cerebral, em 21%, e as mortes por câncer de próstata, em 9%. Em suma, as mortes causadas pelas principais doenças estão diminuindo, exceto as mortes causadas pela doença de Alzheimer, que tiveram um aumento de 89%.
Aquelas doenças diminuíram graças a muitos investimentos em pesquisas, que produziram tratamentos ou mesmo a cura. O problema principal do Alzheimer é o financiamento. Há muitos estudos sobre a doença, especialmente estudos genéticos, mas não há fundos suficientes para criar tratamentos.
O custo para a sociedade é crescente. Em 2017, os custos totais para cuidar dos que vivem com doença de Alzheimer e outras demências atingiram US$ 259 bilhões. Para os planos de saúde, o Alzheimer já consome um em cada cinco dólares do Medicare / Medicaid. Para a próxima década, estima-se que será um em cada três, ou seja, com esses custos, a doença de Alzheimer colapsará o Medicare / Medicaid.
A doença ainda afetará a força de trabalho e a economia. Cada família afetada terá que cuidar dos doentes em casa, além de se ausentar no trabalho para levar os doentes ao médico. E há ainda o custo oculto dos cuidados não remunerados. Em 2016, estima-se que haja 18,2 bilhões de horas de assistência não pagas, uma contribuição para a nação avaliada em US$ 230 bilhões.
A doença de Alzheimer é uma epidemia, e o sistema de saúde não está preparado para apoiar os cuidadores. O custo da doença é uma realidade que logo afetará todos, dizem os especialistas. Muitos pensam que o Alzheimer não os afeta por não ser velho ou por não ter um doente na família, julgam não ser seu problema. Porém é certo que, se você tem cérebro, corre risco da doença. E, com expectativa de viver até os 85 anos, quase metade terá a doença, e a outra metade será cuidadora. Ninguém está imune.
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