“Ego Médico” – Ainda pertinente?


Por Bruno Reis, médico/Medicina Paliativa no HU/UFJF/EBSERH

08/03/2017 às 09h13- Atualizada 27/11/2017 às 07h26

O pior de todos? Não sei! Mas um dos!

E quando o médico se vê como um mero familiar de um ente querido adoentado? Como este deve se comportar com o médico assistente atual? Apenas como um parente? Misturar ser parente e algo do seu atuar como médico?

Ética profissional e respeito mútuo devem sempre prevalecer! Especialidades diferentes têm olhares diferentes! Quando você médico está vendo seu ente querido doente, frágil, podendo partir em breve, sendo assistido por outro colega de uma forma correta, coerente, mas ditada por protocolos (rigidez)… Você para… Pensa… Tenta limitar seu olhar profissional (afinal, você é parente, e não médico!) até onde pode e tenta seguir…

E quando na sua prática diária a atenção aos detalhes é algo primordial (você não segue protocolos, mas sim princípios, que permitem flexibilidade)?

Você lida com pacientes e familiares de pacientes que estão em processo de finitude… Tempo curto! Muita informação previamente não passada! Muitas esperanças proporcionais e desproporcionais! Muita pressão familiar direta ou indireta! Não existe um certo ou um errado completamente! Existe o mais lógico e ponderado!

Ouvir outro colega de profissão sugerir coisas que podem ser “detalhes” (coisas ínfimas), mas que, principalmente, podem amenizar o sofrimento de algum modo, é algo humano! Algo que supera um “ego” decadente na nossa sociedade atual!

Ser médico já foi algo socialmente diferente no sentido esplendoroso! Hoje ser médico é ser médico! Se há tratamentos diferenciados dados a estes profissionais porque são médicos é porque quem age assim não se valoriza ou, infelizmente, está preso num tempo que não existe mais! Passado!

Entendo completamente a dificuldade em escutar/aceitar outro profissional da classe médica, opinando sobre suas condutas, seu aprendizado, mas isso não pode ser um acréscimo? Um complemento? Uma união de conhecimentos? Deveria! Mas infelizmente não é o que ocorre na prática!

Além do “ego”, há o paternalismo médico (o médico toma as decisões sem ouvir o paciente e a família; ou impõe condutas prontas de modo que paciente e familiares ficam paralisados e incapacitados de questionar, simplesmente aceitam).

Mas quem manda de fato? Quem está lá sendo submetido a tudo? É o paciente! E, quando este não pode responder por si, seus familiares decidem e devem participar das tomadas de decisão.

Então não cabe ao médico mais tomar as decisões? Cabe ao médico compartilhar a tomada de decisões que devem satisfazer os desejos dos pacientes e seus familiares, visando à busca de qualidade de atendimento e de vida.

Ser médico é intermediar as necessidades do paciente/família para que as terapêuticas sejam as melhores e proporcionais possíveis!

É cuidar da vida! É preparar para o morrer e a morte! É ser um humano com um pouco de conhecimento técnico a mais…

Simples e difícil assim!

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