Tortura no 2º Batalhão
Acabo de ler o livro “Memórias da repressão – relatório da Comissão Municipal da Verdade”, no qual o 2º Batalhão da Polícia Militar (então 2º Batalhão de Infantaria) é apontado como um dos quatro locais da cidade “onde houve registros de graves violações dos direitos humanos entre 1964 e 1985”. Nos episódios relatados no livro, é citada uma reportagem da Tribuna na qual foram entrevistados José Villani Côrtes e Clodesmidt Riani, que estiveram presos no 2º BPM no período após 31 de março de 1964. As reclamações eram basicamente as seguintes: barulho excessivo à noite, luzes acesas, também à noite, e banho frio.
Ora, os referidos senhores ocupavam a prisão destinada a presos militares (disciplinares e à disposição da Justiça), ao lado de celas onde estavam os presos da corporação. O local era guardado por sentinelas, que eram rendidas de duas em duas horas, com passagens das ordens na presença do subcomandante da guarda e dos outros membros da mesma. Além disso, havia a fiscalização do oficial de dia, do comandante da guarda, etc. Daí, as luzes acesas e as conversas. Regulamento militar é “para ser obedecido, e não discutido”, dizia uma máxima castrense, e o banho frio era uma praxe entre os militares. As prisões de Villani e Riani foram por determinação da 4ª Região Militar, então sediada em Juiz de Fora, e por condenação do Superior Tribunal Militar, respectivamente. O 2º Batalhão apenas serviu de carceragem para os mesmos, aplicando a eles as regras análogas às dos presos militares. O resto é falácia.
O livro cita a reportagem mencionada acima, assinada pela então repórter Fernanda Sanglard (coautora do livro), porém, omite o teor das declarações de Riani no texto, cuja transcrição segue à frente: ” (…) Riani lembra que, apesar de ter sido vítima de violência em outros locais, não foi agredido no 2º Batalhão”. “Preso é preso, mas não fui torturado lá. Era tratado como um preso qualquer, mas a família pôde me visitar e levar comida. Posso dizer que minha passagem por lá foi melhor do que pelo QG e pelo Dops de Belo Horizonte, onde foi terrível, e, de fato, espancavam.”
Um outro fato jamais mencionado servirá para esclarecer definitivamente a situação do senhor Clodesmidt Riani em sua passagem pelo 2º Batalhão: duas de suas filhas, as gêmeas Solange e Suelir Riani, cursaram o magistério (antigo “curso normal”) no Colégio Tiradentes no início dos anos 1970, sendo que tal colégio, na época, era destinado somente aos militares da PM e seus dependentes. Fica aí a minha contribuição para com a Comissão da Verdade e para acabar definitivamente com as insinuações maldosas que atingem o 2º Batalhão, a Polícia Militar e todos os seus membros, entre os quais eu, orgulhosamente, me incluo.
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