A mulher e a vassoura


Por Tribuna

06/07/2017 às 07h00- Atualizada 06/07/2017 às 08h29

Por Walber Gonçalves de Souza, professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni

Em tempos de descaso, de egoísmo, de depreciação e descuido com os espaços públicos, uma situação há tempo vem me chamando silenciosamente a atenção. Semanalmente, observo que uma cena se repete aos domingos na parte da manhã: uma mulher está com uma vassoura na mão zelando pela rua onde mora.

De antemão, quero deixar claro que o objetivo deste texto não é fazer nenhuma apologia em relação ao trabalho de varrer e a mulher. Algo que não deveria mais ser discutido nos tempos modernos se fôssemos realmente modernos e civilizados. Mas como isto é uma outra reflexão vou voltar para o foco deste artigo.

Moro em uma cidade, acredito que não tão diferente das demais do Brasil, onde, ainda, uma boa parte da população ainda possui o infeliz hábito de jogar o lixo pelas ruas, de não colocar os resíduos domésticos (lixo) para a coleta no horário pré-determinado pelos órgãos públicos competentes. Assim, geralmente, as ruas estão sempre sujas, com lixo espalhado por todos os cantos, deixando o ambiente desagradável.

O gesto da senhora, que rotineiramente se repete, é um grito para as consciências. É uma forma de chamar a atenção para o próprio descuido dos transeuntes e moradores. Quando o fim da manhã de domingo se aproxima, é possível verificar um local limpo, o trajeto se torna prazeroso de se caminhar, agradável.

Um dia desses vendo com as minhas filhas (gêmeas) de 10 anos um documentário sobre o Japão, uma delas fez uma observação que estava passando despercebida por este escriba: ela comentou justamente como as ruas do país do sol nascente eram limpas, como não se via lixo pelo chão e completou dizendo que aquela senhora que varre a rua toda semana deveria morar lá. Assim, ela seria mais feliz.

Aproveitei, como pai, para conversarmos um pouco sobre o assunto e ao mesmo tempo fiquei pensando por que aqui, nas nossas cidades, não poderia ser um lugar civilizado também. O que nos falta? Educação? Zelo? Cuidado? Espírito público? São tantas coisas que nos faltam, mas nada que substitua um pouquinho de boa vontade em querer ver as coisas funcionando bem, limpas, organizadas.

Alguém poderá levantar a questão das lixeiras, que deveriam estar presentes nas calçadas. Elas realmente são importantes e necessárias, mas a falta delas é muito pouco para servir de justificativa para o nosso descaso. Todos nós podemos e deveríamos ser responsáveis pelo lixo que produzimos.

O gesto da senhora, além de ser um exemplo, não deixa de ser também uma forma de motivação para que atitudes semelhantes ocorram. Gestos simples, atitudes pequenas, podem fazer grande diferença no cotidiano das nossas cidades. Andar, conversar, conviver em um ambiente limpo, saudável e agradável torna-se uma forma de deixar a vida mais vibrante, e, por que não, mais feliz!

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