Por que estamos nos calando?


Por LÉIA VIEIRA DE SOUZA LIMA E MARIA DAS GRAÇAS MIRANDA FURTAD, COLABORADORAS

03/01/2016 às 07h00

Colega professor, precisamos analisar nosso silêncio e criar situações para que nossa voz seja ouvida, e nossos apelos, atendidos. Temos nos perguntado: será que estamos nos calando porque, em vão, já gritamos muito ou porque a nossa voz se perdeu em direção às salas de aula lotadas de cabecinhas confusas e à espera de um bode expiatório frente às suas esperanças desfeitas, num país que usa a desigualdade social como degrau para conquistar poder, sofismas para confundir e arrancar, cruelmente, a vontade de lutar dos mais esclarecidos e já sem voz? Ou será que a nossa voz emudeceu na busca incessante de alternativas para conduzir a educação? Ou por ouvir barbaridades sobre nossa atuação dos que visam desviar o foco do descaso, do desrespeito, do interesse dos senhores do poder em perpetuar as dificuldades dos menos favorecidos, tornando mais fácil suas ações políticas com armações pouco visíveis aos menos esclarecidos?

Há um limite em que minam tanto nosso poder que as forças se perdem, porém, “quando a água bate no peito, “nadar é preciso”. Também nos alicerçamos em Manoel de Barros: “Perdoai. Mas eu preciso ser outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas”. Elas saem de seu casulo escuro e embelezam as paisagens como o professor, mesmo sendo bode expiatório, oferece poesia, permitindo um voo novo para o imaginário de seus educandos.

Somos mestres do saber, exercemos a profissão com dignidade, e vemos cantarem loas ao Governo por ter concedido o salário mínimo da classe. Embora seja uma conquista, convém frisar que ele é irrisório e não basta ser um elo de luta comum, porque morrer lutando por justiça não é nosso ideal. Salário justo é direito dos trabalhadores que contribuem para a construção do país e será justo se nos permitir viver com saúde e um compatível grau de conforto.

Quanto já fizemos ver que valemos, o quanto usam desta importância para prometer nos valorizar? Assim, cansados de nenhum retorno pelo muito que construímos, vulneráveis em nossa escalada por terrenos cada vez mais pedregosos, mais incertos, mais escorregadios, vamos perdendo a voz, porém, mais uma vez temos que acreditar no que escreveu o grande Manoel de Barros: “Com cem anos de escória, uma lata aprende a rezar”.

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