Esquecer e lembrar
Fatos que marcaram 2018 são emblemáticos para a tomada de decisão dos governantes que assumem na próxima terça-feira
O último dia do ano é próprio para retrospectivas do período que termina e de avaliação do ciclo que virá pela frente. Dois mil e dezoito, prestes a terminar, foi emblemático sob vários aspectos. Marcou, sobretudo, uma inflexão do país na instância política. Sai o ciclo do Partido dos Trabalhadores, inaugurado em 2002 com a eleição do metalúrgico Luiz Inácio da Silva – interrompido pelo impeachment de sua sucessora, Dilma Rousseff, há dois anos -, e entra o ciclo Bolsonaro. Capitão da reserva do Exército Brasileiro e deputado federal, após passagem pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A direita chegou ao poder.
Inflexões ideológicas fazem parte do processo político, sobretudo quando ocorrem com o democrático respaldo das ruas. O candidato pelo PSL fez um discurso conservador, de volta aos “bons costumes”, mas baseado, principalmente, em demandas que a opinião pública vinha cobrando há algum tempo: saúde e, especialmente, segurança. Ele comprou a ideia, e o eleitor comprou o seu projeto. A partir de terça-feira, começa a fase de implementação de suas propostas.
Mas não foi apenas no voto nacional que o país mudou. No doméstico caso de Minas, lideranças como Fernando Pimentel – governador no apagar das luzes – e Antonio Anastasia, senador da República e ex-governador do estado, foram surpreendidas pelo tsunami Zema, empresário bem-sucedido de Araxá que, com um discurso Novo, ganhou de goleada de seus oponentes. Nunca um governador foi eleito com tanta diferença em relação ao oponente, como também, após a reeleição, um mandatário tenha ficado fora do segundo turno.
Para esquecer, o Brasil, de novo, sucumbiu nos gramados da Copa do Mundo depois de uma arrasadora performance nas eliminatórias. Tite, endeusado pelo torcedor e pela mídia, fracassou, e Neymar, a esperança dos boleiros e dos torcedores, contorceu-se em cenas que beiraram o patético. O fracasso, porém, foi coletivo. A Copa América vem aí, de novo só com times sul-americanos, contra os quais o Brasil se sai bem, mas insuficiente para dizer que o futebol voltou.
Para lembrar e esquecer, porém, são os danos provocados pela violência. Esquecer, pois é preciso passar uma borracha no que passou, mas é fundamental lembrar que é preciso mudar para garantir ao cidadão o pétreo direito de ir e vir sem ser importunado, assaltado ou morto nas ruas das cidades. Os números são emblemáticos, e já não há mais espaço para tolerar tal situação. O combate à violência deve ser prioridade, como, aliás, antecipam os futuros administradores.
O ano que começa, porém, carece de outras mudanças. A saúde precisa melhorar a sua gestão, e a educação tem que continuar na lista das prioridades, pois só através dela é que será feita a principal passagem para dias melhores. Sem educação, aumenta a desigualdade; com desigualdade, não há que se falar em Justiça e, sem esta, as chances de mudança são precárias.