A presidente afastada Dilma Rousseff cumpriu ontem o seu ato final no processo de impeachment do seu mandato. Durante 46 minutos, discorreu sobre sua vida pública, seu desassombro ante as atrocidades da ditadura e sua preocupação com a democracia, que, no seu entendimento, está sendo atacada não por um golpe com armas mas por instrumentos jurídicos interpretados para tirá-la do cargo. Fez o que se esperava: investiu no emocional e tentou sensibilizar os indecisos para o seu calvário. A resposta começa a ser dada hoje, quando começa o processo de votação que deve se estender pelas primeiras horas de amanhã. A oposição considera que o placar será mais amplo do que na admissibilidade; a base aliada entende que o jogo ainda está sendo jogado.
Na sua fala, a presidente alertou para os danos futuros do processo que ora se desenrola, advertindo que uma eventual cassação colocará em xeque outros projetos políticos, bastando apenas uma oposição para tirá-los do poder. Faz sentido, mas teve uma tribuna privilegiada para discutir mais as ações de seu governo, algumas delas de graves consequências econômicas, como o país sente no seu dia a dia. Fez um discurso em que não disse, sequer, quais foram os seus erros, a despeito de ter dito que os cometeu. A fala da presidente foi mais para fora do que para dentro do Congresso, a fim de assegurar-lhe um papel na história, pois sabe que dificilmente – embora em política não haja o impossível – irá reverter os votos.
A decisão do Senado é o derradeiro ato de um processo que começou ainda no ano passado. Embora a presidente destaque que será criada uma insegurança jurídica daqui por diante, é necessário ressaltar que o rito cumpriu exatamente o que está previsto na Constituição, reservando-lhe, como ontem, o pleno direito de defesa. E, quando o fez, ao falar no Senado, lhe deu a legitimidade que questiona. Certamente, a questão não acaba agora, mesmo com uma sentença de mérito, pois ela já insinuou que poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Mas será um desgaste a mais, não para ela, que tem o direito de ir até o fim na sua empreitada, mas para o país, que não carece mais de tantas incertezas. Prolongar esse ciclo é comprometer projetos fundamentais para a retomada do crescimento, ora parados ante a dúvida em torno do amanhã.