Invasão de privacidade
Invasão de equipamentos tornou-se uma rotina no mundo digital, fruto do pouco cuidado no uso das redes sociais e no compartilhamento de dados que sempre são exigidos em diversas operações
A ação dos hackers em contas de lideranças públicas nas três instâncias de poder e de outros setores, entre eles jornalistas, não é uma etapa vencida no processo de investigação. Ao contrário, há um longo caminho a seguir tal o grau de interesse que o caso desperta. Não está em jogo apenas a invasão em si, mas suas causas e consequências. É necessário encontrar a fonte primária e avaliar os danos que virão pela frente. Na política, já se observa uma nova razão de enfrentamento entre governistas e oposição, cada lado tentando achar fragilidades no oponente tendo o caso como motivação. A oposição quer conhecer o teor integral do que andaram falando ministros, principalmente Sérgio Moro, da Justiça, e procuradores da República em torno da operação Lava Jato. Ao considerar a possibilidade de destruição dos conteúdos, o ministro deu um tiro no pé, fato reparado pelo presidente Jair Bolsonaro quando afirmou isso só ser possível com ordem judicial.
Por outro lado, os governistas querem saber o grau de envolvimento da ex-deputada Manuela d’Ávila no imbróglio. Ela admitiu ter sido contatada, mas a base oficial acha que o problema é mais grave, sobretudo por ter sido ela candidata a vice na chapa do petista Fernando Haddad na disputa pela Presidência da República. Some-se a isso a declaração do advogado de um dos envolvidos apontando o PT como meta do hacker para encaminhar suas descobertas. O que seria um caso policial está se descambando para a política.
E isso é um problema, pois os dois lados tentam tirar proveito da situação quando o foco seria a investigação em si. Seguir o dinheiro é uma necessidade, sobretudo ao se descobrir a elevada movimentação financeira dos suspeitos, que, de acordo com suas próprias declarações à Receita Federal, não teriam recursos de tal monta. Esse dado já estaria sendo perseguido pelos agentes.
A invasão de privacidade tornou-se um dado pernicioso no mundo digital. Os usuários (quase todo mundo) são convidados a repassar dados em todas as operações, facilitando a ação de olhares indiscretos, isso sem contar o gesto individual daqueles que fazem das redes sociais um diário aberto de suas vidas. No caso da invasão, porém, o que pesou foi a leniência de autoridades no uso de equipamentos. Trafegar informações pessoais sem o mínimo zelo foi um erro abissal, que deve ser corrigido. O mais grave, porém, é a suspeita dos conteúdos. Caberá à Justiça divulgá-los ou não.