Ciclo das águas

A instabilidade climática irá resultar em chuvas mais intensas e secas mais prologadas, o que exige medidas urgentes por parte dos governos e da população


Por Tribuna

29/10/2023 às 07h00

Em menos de uma hora, a cidade registrou na ultima quinta-feira um volume de chuva estimado em 52 milímetros, equivalente a 87% do que é esperado para um mês. Diversas regiões registraram problemas no trânsito – resultado, em sua maioria, pela queda de árvores – e pontos de alagamentos, sobretudo na Zona Norte, onde o nível do Rio Paraibuna subiu além do limite sustentável.

Em entrevista à Rádio Transamérica, na sexta-feira, a prefeita Margarida Salomão, ao fazer um balanço das chuvas, reafirmou a implementação de obras nos chamados pontos críticos, mas observou tratar-se um processo que demanda tempo tal a sua magnitude. As medidas tomadas, e que já produzem resultados, são apenas para mitigar danos, já que o projeto principal ainda não está em execução.

A despeito das ações do Executivo, o enfrentamento às chuvas é um projeto de construção coletiva, cabendo à comunidade não apenas se precaver, mas também adotar uma postura ambientalmente correta. Os funcionários do Demlurb têm retirado toneladas de lixo dos bueiros numa clara constatação de descaso da população. Pior ainda, boa parte é entulho de restos de obras, que acabam comprometendo a rede e levando a inundações.

Não só os juiz-foranos, mas os brasileiros de modo geral, devem estar preparados para as manifestações do tempo. Este ano está em curo o El Ñino, mas o desequilíbrio tem se apresentado também em outras estações fruto das inações humanas.

É necessário enfatizar, mesmo que sob a marca da repetição, que o clima está se alterando cada vez mais em razão do efeito estufa. As chuvas são cada vez mais intensas e a estiagem mais duradouras, formando-se uma combinação de dano duplo. De dimensões continentais, o Brasil tem regiões sem uma gota d’água sequer enquanto outras vivem um ciclo permanente de fortes temporais, como a Região Sul, especialmente os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O ponto de não retorno já é um dado real, mas os governos continuam insistindo em políticas predatórias ou na omissão para garantir o status quo. As muitas conferências sobre o clima terminam com caudalosos relatórios, mas sua implementação é rasa. Os que mais podem não tomam providências, considerando que o planeta ainda se sustenta, e os que menos podem ficam à mercê de recursos que nunca chegam.

Por ser uma construção coletiva, a proteção do meio ambiente envolve desde os grandes players globais ao simples cidadão na sua rotina. A cada temporal é possível ver o curso dos rios marcado pelo lixo, sobretudo de garrafas pets, que, no caso de Juiz de Fora, acabam retidas na Usina de Marmelos. É preciso insistir com campanhas educacionais, que devem ter a escola como ponto de referência, e no questionamento aos agentes políticos, a fim de insistirem, em seus fóruns de discussão, na necessidade de medidas claras e objetivas para estabilizar o clima.

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