A mortalidade tem cor
Políticas públicas e campanhas de saúde precisam se atentar ao fato de que mulheres negras são mais vitimadas pelo câncer de mama por fatores socioeconômicos e biológicos
Como bem sabemos, a mortalidade, de muitas formas, tem cor – inclusive no câncer de mama. Os dados não mentem: mulheres negras no Brasil têm 57% mais chances de morrer de câncer de mama do que mulheres brancas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A disparidade, destacada na manchete da Tribuna deste domingo, reflete um cenário em que mortalidade elevada entre mulheres negras combina fatores biológicos com uma dura estrutura de desigualdade histrórica. São elas que enfrentam maiores barreiras no acesso à saúde, com menor acesso a exames de rastreamento e informações preventivas, e, como resultado, têm diagnóstico mais tardio e prognósticos desfavoráveis. Esse ciclo de exclusão e falta de acesso reflete o racismo estrutural que permeia o sistema de saúde e impede que a prevenção atinja quem mais precisa.
As políticas de saúde pública devem reconhecer os dados e enfrentar o problema com iniciativas que assegurem a democratização do acesso a exames, diagnóstico e tratamento, promovendo a saúde preventiva e combativa em todas as etapas do atendimento. É preciso, ainda, que as campanhas de conscientização levem em conta o fator racial no aspecto multifatorial do câncer de mama, e que dialoguem com as mulheres negras em suas demandas de saúde e prevenção.
Assim, medidas preventivas para estas mulheres precisam ter abordagem mais abrangente de saúde integral, considerando os diversos fatores de risco que afetam essa população. Além do rastreamento para câncer de mama e colo do útero, é fundamental adotar estratégias de controle para condições crônicas como hipertensão, diabetes e obesidade, que aumentam o risco de doenças cardiovasculares e afetam a saúde da mulher negra de forma geral. Esses cuidados preventivos devem incluir o estímulo à prática de atividades físicas e o acesso a avaliações de risco e diagnóstico precoce, fortalecendo uma rede de apoio que ajude a reduzir os índices de mortalidade por condições evitáveis- como o câncer de mama, mas não só. Campanhas como o Outubro Rosa precisam ser expandidas para abordar esses aspectos e alcançar um impacto mais profundo e duradouro, garantindo que todas as mulheres tenham acesso igualitário aos cuidados necessários em cada fase da vida.
Ignorar tais aspectos soba farsa da democracia racial brasileira é ser conivente com a disparidade a que as mulheres são subjugadas, inclusive no câncer de mama, em relação à branquitude.