Capital político

Governo precisa centrar suas ações no projeto da reforma da Previdência, prestes a entrar na agenda da Câmara; qualquer atraso, agora, adia ainda mais a votação de um texto estratégico para o país


Por Tribuna

27/06/2019 às 06h00

O relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), deve entregar, nesta quinta-feira, a sua complementação de voto, com mudanças em seu parecer. Ele pretende fazer modificações no parecer entregue há duas semanas, sem, no entanto, mexer em pontos centrais da proposta, como idade mínima de aposentadoria.

Também nesta reta final, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deverá fazer um último esforço para incluir estados e municípios no projeto, mas não há garantias de acolhimento. Mais do que isso, mesmo se houver a inserç&atil de;o, não há certeza de aprovação pelos deputados, cujas atenções já estão voltadas para as eleições municipais do ano que vem. Boa parte teme contrariar os servidores públicos e receber o troco, já em 2020, com rejeição aos seus indicados, ou em 2022, quando o Congresso passará pelo crivo das urnas.

Essas idas e vindas fazem parte do processo, sobretudo em matérias de relevância e de grande visibilidade ante a opinião pública. Os políticos sempre agem com um olho no padre e outro na missa e não seria desta vez que iriam acolher uma mensagem do Governo – mesmo com o amplo respaldo das urnas – sem esboçar algum tipo de reação. A questão em pauta é que tipo de interesse está em jogo. A reforma da Previdência, como indicam os dados, é necessária para garantir os vencimentos das próximas gerações, mas também para resultados imediatos na economia. Daí, pensar apenas no próprio mandato é comprometer a essência da própria representatividade.

O Governo, porém, também terá que fazer a sua parte. Em vez de centrar suas ações num projeto que carece de votação ainda esta semana, cria várias frentes, muitas delas polêmicas, queimando um capital político que pode faltar na reta final. O caso Moro e agora o decreto das armas reformatado são temas que tiram o foco da reforma e reduzem o poder de ação dos próprios defensores da matéria, pois, vira e mexe, são levados a discutir outros temas que poderiam ficar para outra ocasião.

Pelo sim, pelo não, resta saber se a matéria será votada antes do recesso parlamentar. A partir do dia 18 de julho, o Congresso fecha as portas por um mês. Pode parecer pouco tempo, mas em se tratando da tramitação de matérias, o comprometimento é maior. Afinal, depois da Câmara, a reforma ainda precisa passar pelo Senado, quando uma nova batalha de argumentos volta à agenda do parlamento.

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