Sístoles e diástoles

Governo precisa melhorar sua articulação em vez de avanços e recuos que só levam insegurança à sua base no Congresso às vésperas da votação da reforma da Previdência


Por Tribuna

25/06/2019 às 07h00

Sem feriado, mas curta por causa das festas juninas – eventos que levam a bancada nordestina para seus redutos eleitorais -, a semana será estratégica para o projeto de reforma da Previdência ante a expectativa de um adendo, elaborado pelo próprio relator, que pode mexer no texto de forma substancial. A meta da Mesa Diretora é colocar o texto em plenário antes do recesso de julho, exigindo um esforço concentrado das bancadas para manterem seus deputados em Brasília. De acordo com os planos do próprio Congresso, se aprovado pela Câmara, o texto entra no Senado no início de agosto, indicando que antes do fim do ano todo o projeto já esteja aprovado.

Mas há dúvidas. O presidente Jair Bolsonaro avisou que “não vai pegar em armas para reincluir estados e municípios nas regras que serão impostas pela reforma”. Em reunião com a bancada do Podemos – como revela o Painel da Folha de S. Paulo -, ele disse não ver motivos para brigar pelos governadores e avaliou que os mandatários favoráveis a mudanças nas aposentadorias do funcionalismo local devem agir por conta própria – “sem se apoiarem no Governo federal e no Congresso”. O presidente vai na contramão dos articuladores da Câmara, que tentam inserir estados e municípios na reforma, numa última tentativa ainda esta semana, mas não deixa de ter razão. Governadores e prefeitos precisam fazer pressão sobre seus deputados e senadores, em vez de passarem a bola para o Governo.

O paradoxo desse enredo é a postura dos parlamentares. Conhecem as dificuldades de suas bases, mas evitam apoiar a inserção para não ficarem mal com os funcionários públicos de estados e municípios, numa clara ação de preservação de seu mandato, em vez de defenderem um projeto de país. Não há surpresa, porém trata-se de um contrassenso e um deliberado desconhecimento do que ora ocorre nos governos estaduais e nos municípios, palcos de uma crise sem fim e com suas previdências em estado crítico. Em Juiz de Fora, para buscar o exem plo local, a Previdência é sustentada em parte pelo Tesouro, comprometendo ainda mais a capacidade de endividamento da Prefeitura.

Mal apresentada à sociedade, a reforma tornou-se um tabu, a despeito de sua importância. Não houve um trabalho de conscientização coletiva para indicar o atual cenário da Previdência, em risco para as futuras gerações de trabalhadores. O projeto tornou-se um vilão forjado pelos que resistem à mudança e por segmentos que apostam no quanto pior, melhor, num claro jogo político no qual a sociedade é colocada à margem. A aprovação, porém, precisa de ação coletiva, a começar pelo Governo, que vive momentos de s&iac ute;stoles e diástoles em sua articulação.

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