OS PREDESTINADOS
Tirando o viés teológico, no qual predestinação significa a escolha, de antemão, por Deus dos que irão ser contemplados com a glória eterna, no linguajar geral, o termo pode ser adotado na instância política. Vários parlamentares podem até não ter sido citados, ainda, mas estão certos de que, em algum momento, vão se envolver na lava jato ou em algum grampo, como ora aconteceu com o ministro do Planejamento, Romero Jucá, que não ficou nem uma quinzena no cargo por conta de uma gravação em que sugere frear a ação da Polícia Federal e do Ministério Público. Ele negou, mas o estrago já estava feito, não restando outro caminho senão o afastamento. Sem volta, talvez.
Pelo teor da conversa do senador com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado – o personagem do outro lado do grampo -, muitos outros nomes ainda entrarão na fila. Brasília, hoje, é um campo minado, pois, a cada avanço da investigação, novos personagens entram na fila dos denunciados ou estão próximos de sê-lo. Por isso, fez bem o ministro do STF Luiz Roberto Barroso ao avisar que deter a investigação é impensável.
Resta saber até onde irão as ações da PF e do MP, uma vez que, pelo andar da carruagem, não sobrará ninguém para apagar a luz. Nas conversas de Jucá e Machado, foram citados ainda os senadores Renan Calheiros, presidente do Congresso, e o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e candidato à Presidência no confronto com Dilma Rousseff em 2014. É fato que são apenas citações, mas, de novo, entra a predestinação.
A saída do ministro foi um gesto hábil de Michel Temer, que não deixou a sangria se ampliar, mas ele deve ficar atento, agora, à composição do restante do seu ministério, pois, num cenário de grampos e denúncias, escolhas erradas levam a crise para dentro do Planalto, algo que só atrasa as próximas e necessárias ações de seu Governo.