Efeito borboleta
A sucessão nos Estados Unidos tem repercussão global, daí o olhar atento do mundo para o pleito de novembro, agora sem Joe Biden em oposição a Donald Trump
Antes mesmo de a internet tornar-se uma ferramenta de conexão global, estabelecendo uma ligação direta entre ações e reações quase em tempo real por todo o planeta, já se fala, há tempos da teoria do caos com seu efeito borboleta, indicando que variações muito pequenas podem parecer insignificantes, mas capazes de enormes mudanças ao longo do tempo, provocando uma sensação de caos. Mas não desordem.
Até a semana passada, o mundo acompanhava a campanha para a presidência dos Estados Unidos sob o prisma da volta de Donald Trump e o dilema do atual presidente, Joe Biden, de continuar no posto. Pequenos eventos, como um escorregão na escada do avião, troca de nomes de líderes políticos ou de países acabaram lhe impondo uma pressão dos próprios aliados pedindo a sua renúncia. No domingo, um minuto após avisar aos assessores mais próximos, ele jogou a toalha.
O fato de os Estados Unidos ainda serem um dos principais players globais coloca a sucessão no foco e com diversas leituras. Os europeus estão preocupados com a aliança transatlântica, apoiada por Biden, que lhes garante, hoje, questionar os projetos hegemônicos da Rússia e da China e dar garantias materiais à Ucrânia numa guerra em que ela é o elo mais frágil.
Donald Trump tem uma política externa totalmente diversa. Seu próprio lema “Make America Great Again” aponta para uma política voltada para dentro, sem se preocupar com os aliados europeus. No seu mandato, ele ameaçou retirar os EUA da Otan e reduziu drasticamente os repasses para a organização.
Para os ambientalistas ele também tem um recado direto. Em vez de reduzir, como sugerem todos os fóruns envolvendo a mudança climática, ele quer aumentar a produção de petróleo. De novo Biden está no polo oposto.
A eleição dos EUA, portanto, não interessa apenas aos americanos. A desistência do atual presidente significa – diante de todos os dados estatísticos – que só um novo candidato pode fazer frente a Trump e manter as esperanças europeias e dos ambientalistas. Biden sugeriu a vice, Kamala Harris.
Há, no entanto, o outro lado. O retorno de Trump ao comando dos Estados Unidos é um reforço expressivo para os setores da extrema direita, que têm nele uma referência. No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro ganha um grande reforço no seu projeto, assim como Trump, de retornar à chefia do Governo.
Durante seu mandato, o ex-presidente fez várias reverências ao dirigente americano, não só com visitas, mas também com discurso e atos semelhantes.
O vento que pode provocar um simples bater de asas de uma borboleta no oriente pode ser o mesmo que leva a um furacão no ocidente, sobretudo porque, a despeito de todo o determinismo da ciência, há sempre um mínimo detalhe que muda as consequências.
No caso em questão, não é um simples detalhe. São interesses globais que estão em jogo.