Drama das metrópoles
O combate à criminalidade, que ganhou um novo viés, tem provocado sérios danos colaterais com a morte de inocentes
Juiz de Fora vive um paradoxo na área de segurança: tem um dos mais altos índices quando se fala em resolução dos crimes tentados ou consumados contra a vida e vive, em comparação a anos anteriores, uma queda nas ocorrências, mas, mesmo assim, passa por momentos preocupantes. Na semana passada, um segurança foi morto dentro de um supermercado, e, na última quarta-feira, uma professora, por estar no lugar e na hora errados, foi atingida por um disparo que lhe tirou a vida. A ocorrência começou quando um adolescente praticou um furto, entrou em luta com um militar reformado e o esfaqueou. Este, por sua vez, atirou no assaltante, mas a bala atingiu a professora.
Andar pelas metrópoles tornou-se um momento de preocupação, pois qualquer um está sujeito a ser vítima de uma bala perdida. O noticiário nacional está recheado de casos de personagens que, como a professora, foram mortos mesmo não tendo qualquer envolvimento com as ocorrências. No Rio, duas crianças entraram nas estatísticas ao serem atingidas por disparos.
Quando se cria uma cultura de guerra, há sempre o risco de ocorrências como estas serem indexadas à rotina das cidades. O Estado reage, também paradoxalmente, atendendo pleitos da sociedade, que já não suporta tamanha violência, mas esta mesma população tem sido vítima desses enfrentamentos.
Lidar com a violência é um desafio permanente dos governantes induzidos pela opinião pública a tomar providências. O Congresso deve levar para o plenário, depois de passar meses numa comissão especial, o projeto anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que aproveitou partes de proposta semelhante do ex-ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, hoje no Supremo Tribunal Federal. O projeto endurece penas, cria mecanismos de combate à corrupção e abre novas frentes na luta diária pela segurança, mas nem ele é a garantia de que, a partir de sua sanção, tudo vai mudar.
A violência tem componentes que vão além do Código Penal, principalmente a sua gênese. Investir na educação deve ser uma prioridade permanente, a fim de reverter o jogo, mesmo que seja a longo prazo, mas não dá para desistir. Ademais, o país ainda tem contornos de injustiça social, com um expressivo número de desempregados e outros tantos que vivem fora da carteira de trabalho.
Nada justifica a violência, mas, quando se sabe que há uma matriz, é necessário enfrentá-la com repressão, prevenção, leis e políticas públicas. Uma só frente não basta.