Antigas lições
O país precisa refletir sobre a ação de seus mártires e de suas lideranças, que defenderam causas do interesse coletivo com o olhar voltado para o futuro, e não para o próprio umbigo
O dia 21 de abril, celebrado neste sábado, é emblemático para a história nacional pelo seu significado de liberdade inspirado na saga de Tiradentes. O mártir da Independência lutou por dias melhores e, principalmente, para tirar o Brasil do controle da Corte que sugava suas riquezas com contrapartidas pífias e, mesmo assim, para alguns poucos. Os anos se passaram, e a data voltou a ter outro significado. Em 1985, depois de meses de agonia, o presidente eleito, Tancredo Neves, chegava ao seu derradeiro momento. Já passavam das 20h de um domingo quando o porta-voz da Presidência, jornalista Antônio Brito, ocupou as redes de rádio e TV para dizer que o presidente tinha morrido. Com ele, tinha ido um sonho de mudanças, mas com ele também renascia um novo país, forjado na ansiedade da espera, e a certeza de que a voz das ruas iria ser o fator de transformação.
Tem sido assim, mas os tempos, hoje, com redes sociais, soam estranhos. O diálogo sumiu, e o enfrentamento ganhou força, trazendo com ele as chamadas fake news, próprias dos que não querem jogar o jogo democrático, e sim ganhar no grito. A intolerância se acentuou, e o debate de surdos virou a ferramenta dos extremos. Todos falam, mas o discurso é para o público interno, sem o menor interesse em saber o que o outro lado pensa ou projeta. Sob esse enredo, tanto Tiradentes quanto Tancredo estão perdendo, pois, se o primeiro tinha a liberdade como matriz de sua luta e o segundo, o diálogo como instrumento de transformação, a liberdade ainda resiste, mas o contraditório está bloqueado pelo radicalismo.
O ano é de eleições, o que faz dele próprio para se discutir o projeto de nação que se espera sob a futura gestão, mas os primeiros ensaios são preocupantes. Os pré-candidatos – talvez pelo momento – só pensam em formular alianças, a fim de ganhar tempo de propaganda eleitoral. Ninguém antecipa seus projetos, esperando que eles se consolidem no meio da campanha. O fundamental, porém, é que não percam o norte e entendam que há profundos desafios pela frente que só serão resolvidos com muito trabalho e diálogo, o que anda em falta, mas possível de ser retomado se houver interesse comum de se elaborar um país mais justo e melhor para todos.