Moro sob pressão
Ministro se apresenta aos senadores para explicar troca de correspondências com procurador da Lava Jato
As consequências do embate entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e os senadores, numa audiência por ele sugerida, ainda são incertas, e nem é possível falar em torno de quem ganhou, pois não era esse o objetivo. Ficou claro, contudo, que tanto o ministro quanto o procurador Deltan Dallagnol foram, no mínimo, imprudentes na troca de mensagens, o que chega a surpreender pela importância dos cargos que ocupavam na ocasião dos diálogos. Promotores, juízes e advogados conversam fora dos autos, mas não sobre assuntos de relevância processual, sob o risco de serem considerados impedidos de ir adiante no processo.
O encontro foi marcado, como esperado, por um embate que, em alguns momentos, beirou a palanque. Vários senadores, em vez de se aterem ao tema, fizeram uso do espaço para falar de seus propósitos, o que não é incomum na instância política. Ante os holofotes e os microfones da mídia em tempo real, é normal esse aproveitamento, por ser um momento único de visibilidade. Mas não era esse o objetivo. Moro assegurou que renunciará se for encontrada alguma ilegalidade e garantiu que não tem medo da divulgação de todo o conteúdo, embora não se lembrasse de alguns trechos apresentados pelos parlamentares. Sua ida ao Congresso, porém, foi positiva, até mesmo para evitar o jogo especulativo próprio de momentos em que a autoridade pública, em vez de se apresentar, esconde-se nos bastidores do cargo. Moro foi à luta.
No entanto, o ponto crítico será na Câmara, na qual as relações de cordialidade nem sempre marcam os enfrentamentos. O ministro tem que manter a serenidade e explicar ao máximo o que ocorreu nos seus celulares, buscando tirar todas as dúvidas. A transparência no serviço público é uma máxima que deve ser levada em conta para o próprio bem do ministro, que atuou no terreno árido da Lava Jato e ocupa, agora, uma estratégica pasta do Governo.