Ataque e defesa
Candidatos fazem dos debates um espaço de exaltação de seus feitos e de desconstrução dos concorrentes, mas não mostram propostas
Os políticos, devidamente orientados por suas equipes, já perceberam que falar em número durante debates e na própria campanha não atrai a atenção do eleitor. Por conta disso, os debates, como os primeiros que já ocorreram, tornaram-se espaço para ataque e defesa. Na noite de quinta-feira, por exemplo, o tucano Antonio Anastasia e o petista Fernando Pimentel destacaram as próprias virtudes e questionaram duramente o oponente, num processo de desconstrução que, de acordo com os marqueteiros, induz o voto. Os demais participantes bem que tentaram, mas a polarização ficou clara.
O que se viu na Bandeirantes, em Belo Horizonte, foi a réplica de situação semelhante no debate nacional promovido pela emissora, quando estava em discussão a presidência da República. Na ocasião, os alvos preferenciais foram Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin, uma vez que o ex-presidente Lula não estava presente. Como a estratégia comum é de não se manifestar sobre o concorrente, sobretudo quando ausente, o nome do ex-presidente pouco entrou na discussão.
Pelo menos em Minas, os demais candidatos mostraram conhecimento da realidade das finanças do Estado, fazendo uso de dados para apontar a crise da gestão Pimentel e sua matriz no período Anastasia. Esse, aliás, deve ser o tom de campanha, pois não há o que oferecer além disso. As promessas ficam no plano geral de boa gestão, controle de gastos e param por aí. E se não vão além não é por conta de eficiência, e sim pela incerteza da economia. O impasse nacional produziu um efeito cascata que estourou na ponta, isto é, nas prefeituras, bastando ver a situação da maioria dos municípios brasileiros.
Sob esse aspecto, os candidatos têm um ponto comum: é preciso rever o pacto federativo, pois a União, ao ficar com a maior fatia da arrecadação, repassa mal os seus recursos, enquanto governadores e prefeitos, especialmente estes, ficam com a menor parte. Os municípios, principalmente, ainda têm o agravante de ser onde tudo acontece. Os prefeitos são cobrados diretamente e não têm o que responder diante da impossibilidade financeira que acomete suas administrações.
Os debates e a própria campanha são espaços ideais para essa discussão, pois o modelo em vigor se mostrou ineficiente. Mas, para isso, em vez de jogar a culpa no outro, os candidatos precisam detalhar um pouco mais as suas propostas.