Em cima do palanque

Em ano eleitoral é comum o debate, que deveria ser meramente institucional, tornar-se um enfrentamento entre os atores que irão colocar seus nomes ao crivo do eleitor


Por Tribuna

16/01/2022 às 07h00

No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, mantiveram uma queda de braço em torno do processo de vacinação. Adversários diretos nas eleições deste ano, levaram para o palanque uma questão sanitária que até hoje tem seus altos e baixos. Em Minas, o governador Romeu Zema e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, também aspirantes ao enfrentamento de outubro, começaram a trocar farpas em razão de o Estado não ter recursos diretos para auxiliar prefeitos das cidades afetadas pelos temporais. O dirigente da capital, um dos que pleiteiam recursos, cobrou do governador maior agilidade nas ações junto ao Governo federal.

Quando demandas comunitárias vão para o palanque, o único perdedor é a população, pois nem sempre tais embates rendem os resultados adequados. O Brasil, hoje um campeão de vacinação, demorou a iniciar o processo de imunização. A nova queda de braço envolve a vacinação de crianças, que só agora está prestes a começar. O repasse de recursos para os municípios pode ser a bola da vez, embora o próprio presidente tenha anunciado um pacote de repasses para ajudar na recuperação das áreas afetadas.

As chuvas, porém, são apenas parte das discussões que tendem a aumentar com o passar do tempo. A partir de março, quando – em tese – o cenário de candidaturas já estiver definido, os enfrentamentos ganharão novo contorno, com cada um buscando descontruir o concorrente. É do jogo, mas o eleitor deve ficar atento, sim, às propostas que deverão ser inseridas nos programas de Governo. Como é próprio da política, muitas ações são meros ensaios, e outras, sem qualquer viabilidade de execução.

Sob esse aspecto, aliás, as promessas não são exclusivas dos postulantes a mandato executivo. Candidatos a deputados e ao Senado costumam também vender o que não podem, sobretudo por conta de prerrogativas. O legislador, como o próprio nome diz, é eleito para fazer leis e fiscalizar as ações do Executivo, quando muito, apresentar emendas para a execução de projetos. Em pleitos municipais é comum o candidato indicar obras em determinadas regiões que estão totalmente fora de sua alçada. Às vezes, cola.

No caso das emendas, o jogo se desenvolve sob um novo modelo. A novidade do ano passado foi o Orçamento secreto, pelo qual apenas um seleto grupo de parlamentares teve acesso a recursos para encaminhamento às suas bases. Em alguns casos, há suspeitas de utilização pouco republicana das emendas, voltadas, de fato, para interesses particulares. Os escândalos que permearam a política nacional nas últimas décadas são fruto de ações como essa, em que um seleto grupo se beneficia da “res publica”, em detrimento da maioria da população.

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